01 de novembro de 2024 às 18:07 - Atualizado às 18:14
Edinázio Vieira Arte: Portal de Prefeitura
O cientista Miguel Nicolelis atribui ao cérebro o título de "verdadeiro criador de tudo". Já o neurocientista Antônio Damásio, em sua obra literária "E o cérebro criou o homem", explora essa mesma ideia.
Todos que desembarcam neste planeta ouvem falar de Deus como o criador dos céus, da Terra, das estrelas, do Sol e de todos os seres, incluindo humanos, animais e tudo o que existe.
Os religiosos fabricam demônios, criam mitos, e, quando a ciência os explora, percebe-se que esses demônios existem e circulam entre nós, pois habitam em cada ser humano.
O cérebro humano e a mente são terras ainda pouco exploradas. Entretanto, reconhecemos os "demônios" na fúria e na raiva entre as pessoas.
É possível observar uma pulsão de morte em indivíduos com algum tipo de transtorno psíquico, manifestada em agressividade e desequilíbrio fora dos padrões.
Frequentemente, ouvimos expressões como "ele está com o demônio no corpo" ou "sua força é diabólica". O desconhecido é considerado um fenômeno, e o culto ao satanismo torna-se popular e real.
Sem essa construção diabólica, a vida talvez fosse mais leve, sem a punição e o medo que, de certa forma, freiam impulsos primários e desejos.
Todas as pessoas têm uma pulsão de vida e de morte, e as "porções malignas" se manifestam através da mente.
Um surto psíquico pode ser influenciado pela cultura que associa esses fenômenos à mitologia satânica. A dualidade conduz o ser humano a escolhas entre noite e dia, bem e mal, e essa conduta alimenta a "força demoníaca" que acompanha a vida, preenchida por superstições e crenças cultivadas ao longo do tempo.
Sabemos que a mente engana e produz ilusões. O cérebro, através das sinapses neurais, cria sua própria realidade.
O aumento da dopamina pode afastar o indivíduo da realidade, conceito abordado por Lacan, que distingue o real da realidade.
Esse excesso de neurotransmissores é comum em pessoas esquizofrênicas, popularmente chamadas de "loucos".
Os religiosos atribuem o comportamento agressivo e inconsciente de certas pessoas a uma "possessão demoníaca", enquanto a medicina o classifica como surto psicótico.
A medicina, no entanto, não possui elementos laboratoriais suficientes para confirmar a "loucura", baseando-se na escuta, observação e anamnese. Portanto, seria o surto uma forma de possessão?
Mensurar uma explosão psíquica, caracterizada por delírios, catatonia, alucinações, comportamento bizarro, discurso desorganizado e paranoia, pode se assemelhar à possessão maligna, e a psiquiatria a classifica como esquizofrenia.
Os religiosos, por outro lado, veem esses fenômenos como atos satânicos, interpretando-os como domínio por forças espirituais do mal.
Essa guerra diagnóstica é complexa: de um lado, a religião; de outro, a psiquiatria. Observe que não existe uma métrica científica exata para o diagnóstico real. A psiquiatria categoriza esses estados como esquizofrenia e "doenças mentais", enquanto os religiosos recorrem ao conceito de possessão diabólica.
Chamo a atenção do leitor para algumas observações que fiz ao longo dos anos em atendimentos clínicos de psicanálise: ninguém enlouquece da noite para o dia ou em idade avançada.
Não podemos ignorar os fenômenos espirituais, nem o papel da indústria farmacêutica, que se beneficia da venda de medicamentos e utiliza a classe médica como canal para promover seus produtos.
Considero que existem fenômenos "diabólicos" que se introduzem no cérebro humano e na mente. Os cientistas Miguel Nicolelis e Antônio Damásio defendem que tudo é criado pelo cérebro.
Na minha opinião, a mitologia satânica expandiu-se ao longo dos milênios, e o cérebro interpreta esses conteúdos como reais, enquanto a mente cria os tipos de demônios, tornando as pessoas prisioneiras de uma mitologia religiosa.
O processo de vida do ser humano é permeado por raiva, ódio, inveja, bondade, maldade, desejos de suicídio, de matar, de possuir, entre outros.
As pessoas acumulam esses sentimentos ao longo da vida, herdando-os de antepassados, e desenvolvem diversas emoções.
Alguns indivíduos já vêm ao mundo com marcas de uma gestação indesejada ou de abandono, o que contribui para a formação de seus "monstros" ou "demônios" internos, que os acompanham eternamente.
Vivemos em um mundo que valoriza a coletividade e abandona o indivíduo, onde o rótulo é mais importante que o conteúdo e onde números representam certezas.
Nesse contexto, os esquizofrênicos, "loucos" e "possuídos pelo diabo" são excluídos da sociedade produtiva, seja financeira ou religiosa. Até a Bíblia afirma que os "loucos" não herdarão o Reino de Deus.
Se até "Deus" os abandona, imaginem o que a sociedade e a igreja farão com os "endiabrados". Os "loucos" terão um destino eterno em celas, hospícios ou no inferno, além de serem condenados, aqui na Terra, a tomar o "remedinho" prescrito pelos doutores da salvação.
Por fim, quem possui saúde mental? Você? Eu? Ou a classe dominante, com um perfil psicopata e perverso, que prende, controla, mata e se aproveita daqueles que sofrem e choram e que jamais serão ouvidos?
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O colunista é mestre em gestão, professor e consultor empresarial.
"O Brasil é o maior consumidor de medicamentos da América Latina, é a nação mais viciada compulsivamente em celulares e 86% da população", escreve colunista.
O colunista é mestre em gestão, professor e consultor empresarial.
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