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Rio de Janeiro: um estado em guerra, o que fazer? - Por Edinázio Vieira

"A tragédia ocorrida em outubro de 2025, quando uma operação do governo do Rio invadiu uma favela e matou mais de 100 pessoas, expôs o grau de despreparo e falência social", escrevou o colunista.

Isabella Lopes

03 de novembro de 2025 às 15:48   - Atualizado às 15:51

Rio de Janeiro um estado em guerra, o que fazer ?

Rio de Janeiro um estado em guerra, o que fazer ? Foto: Feita por IA

A capital do Rio de Janeiro foi habitada e socializada por um misto de pessoas de diferentes classes sociais, onde convivem muito próximas as favelas, morros e bairros elitizados. Essa proximidade física entre extremos sociais diversos influenciou comportamentos profundamente. Ou seja, o luxo e a pobreza absoluta coexistem lado a lado, configurando um cenário onde tanto o pobre quanto o rico têm desejos que partem da mesma origem.

Essa condição pode ser compreendida também a partir da neurociência, pois os chamados neurônios espelho, estruturas do cérebro que se ativam quando observamos as ações e emoções dos outros, fazem com que o morador da favela, ao enxergar a poucos metros uma mansão, a opulência dos seus ambientes e quitutes servidos, reflita e ressoe esse desejo. Por essa via, o desejo social é espelhado, compartilhado, mas as condições para sua realização permanecem profundamente desiguais.

Porém, o problema não se restringe apenas à esfera simbólica ou emocional do desejo. Existem fatores estruturais que ampliam essa disparidade: a ausência consistente do Estado em prover serviços essenciais como educação, saúde e transporte para as populações mais vulneráveis, enquanto os detentores de recursos veem suas necessidades plenamente supridas. Essa disparidade acentuada é o cerne da desigualdade social no Rio de Janeiro.

A tragédia ocorrida em outubro de 2025, quando uma operação do governo do Rio invadiu uma favela e matou mais de 100 pessoas, expôs o grau de despreparo e falência social que atravessa a cidade. Ela revela o quanto estamos falhando coletivamente na gestão desses conflitos, tanto no nível institucional quanto social.

A grande questão da violência, da agressividade e da marginalidade está na prevenção. Contudo, a falta de projetos governamentais estruturados demonstra um ciclo vicioso em que as autoridades sabem apenas reprimir, nunca prevenir. Essa repressão não faz mais do que aprofundar o conflito e caminhar para um confronto violento do humano contra o humano.

Nesse universo turbulento, estamos nos matando e tentando escravizar uns aos outros pela força, pela imposição do medo e da insegurança. A violência amplia os abismos sociais e perpetua a segregação, tornando quase impossível a coesão social necessária para o desenvolvimento humano.

A matança no Rio de Janeiro é um grave sinal de alerta e revela uma distinção brutal entre aqueles que possuem recursos e os que vivem sem acesso a direitos básicos, independentemente de moral, religião, cor ou gênero. O que define a vítima, muitas vezes, é sua posição dentro desse sistema desigual.

Para enfrentar essa realidade, é necessário um projeto psicoeducacional a longo prazo, pois é fundamental estruturar a psique na idade após os cinco anos. Esse é o momento em que a criança deve adquirir um lastro psíquico sólido, que lhe permita desenvolver-se psicologicamente de forma saudável. Com essa base, ela poderá buscar seus espaços no mundo não pela violência, mas sim pelos talentos que irá adquirir ao longo da sua caminhada.

Se observamos com atenção, é possível entender que conter as pulsões que levam à violência passa por compreender as raízes emocionais e estruturais dessas tensões. Controlar o desejo que é despertado pelo contato com o outro seria impossível sem priorizar políticas públicas que assegurem igualdade de oportunidades, educação de qualidade e serviços públicos eficientes.

O Rio de Janeiro, nesse momento crítico, precisa urgentemente de intervenções que transcendam a simples repressão policial e promovam inclusão social real, fortalecimento comunitário e reconstrução dos vínculos sociais.

Somente com um projeto integrado de prevenção, que contemple os aspectos simbólicos, emocionais e materiais da desigualdade, teremos chance de reverter esse estado de guerra silenciosa, preservando vidas e reconstruindo uma cidade na qual diferentes sujeitos possam coexistir socialmente em harmonia.

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