Pobreza no Brasil. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Todos os humanos nascem nus, desprovidos de bens materiais, financeiros e culturais. Chegamos ao mundo apenas com o sopro da vida, sem títulos, heranças ou posses. A pobreza inicial é natural — uma condição do nascimento, não uma condenação.
No entanto, muitos que nascem em escassez se apequenam diante dos desafios e se vitimizam. Passam a agir e a se comportar como pobres, revestindo-se dessa condição como se fosse uma armadura que protege, mas aprisiona.
Tudo se inicia como uma tatuagem psíquica — uma marca invisível que limita a visão de si e do mundo. Mesmo frequentando escolas ou universidades, muitos não alcançam a verdadeira transformação interior: adquirem conhecimento técnico, diplomas, vestem uma nova aparência social, mas permanecem pobres em comportamento e mentalidade.
Alma e mente são distintas: a mente cria pensamentos, crenças e padrões; a alma abriga a essência, o sentido e a percepção do ser. A transformação real não ocorre apenas no nível da mente, mas quando conseguimos olhar para dentro, confrontar nossas marcas e libertar a essência que nos habita. A mente aprende, mas só a alma se liberta.
No século XXI, pobreza passou a ser sinônimo de miséria, falta absoluta e ignorância. Essa sentença, idealizada pelas civilizações dominantes, pode ser revertida. Quem reconhece o “poço” em que está tem a chance de renascer, de reestruturar-se e enxergar o mundo com uma nova lente de percepção.
Uma das pontes que perpetuam a pobreza são as crenças limitantes, a religião e a suposta competição entre classes econômicas.
Na realidade, competimos conosco mesmos, com nossos medos e nossas miopias, e ficamos presos nos labirintos criados por políticos e líderes religiosos que se alimentam das dores e limitações alheias. A dor e a agonia conduzem muitos à surdez: só enxergam e escutam seus próprios ais, seu próprio mundo.
Ninguém liberta ninguém; não existem messias. A libertação depende de um novo enxergar, de autoconhecimento e de orientação que despertem a consciência para além das amarras herdadas.
Através da psicanálise, da filosofia, da ciência da religião e da física quântica, é possível estruturar ferramentas para uma nova vida — uma nova forma de perceber, agir e ser.
A pobreza, portanto, não é uma sentença. É um comportamento que pode ser reconhecido, confrontado e transformado, abrindo caminhos para romper ciclos, reconstruir a mente e libertar a alma.
O sofrimento é uma prótese da pobreza, pois possui um braço psíquico: muitas vezes ele se fortalece e se muscula pela falta.
Às vezes me pergunto se existe algum interesse genuíno do outro pelo outro, ou se há uma vontade absoluta de manter uma classe dependente e carente. Criou-se uma espécie de “deus” para suprir essa carência — mas a contrapartida é financeira, obediente, sacrificial, submissa; exige culto, reverência e submissão. Esses deuses, muitas vezes, são sádicos e narcisistas.
A superioridade se veste de divino, enquanto a pobreza é escassa e submissa. O sofrimento, então, perpetua-se, tornando-se um elo invisível que mantém o ciclo de dependência, obediência e escassez. Libertar-se desse vínculo exige consciência, coragem e o despertar da própria alma.
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