13 de maio de 2024 às 09:20 - Atualizado às 11:06
Aldair, Alexsandra e seu filho. Aldair, Alexsandra e seu filho.
Quando os alertas de enchente iniciaram em Canoas, na sexta-feira, 3 de maio, Aldair e Alexsandra, pais de um garoto de 11 anos, arrumou suas malas e guardaram no carro, caso precisassem sair às pressas.
Além de sua casa inundada pela enchente, o casal ficou por três dias longe do filho, que esteve ilhado na casa da avó, após água avançar rapidamente pelo bairro.
Assista ao vídeo do relato:
“A gente olhava a vazão da água, mas nunca imaginamos que seria do jeito que foi”, contou Aldair.
Logo depois, a família foi para a casa da mãe de Alexsandra. Lá, a família fez um momento de adoração.
“Começamos a adorar a Deus, cantamos alguns louvores, estava muito forte a presença de Deus e oramos”, disse o pai.
Enquanto o casal se deslocava, a água rapidamente invadiu a região e o carro ficou submerso.
“A água começou a vir numa proporção muito grande para cima do carro e o Adair acelerando muito para o carro não apagar no meio de toda aquela água”, acrescentou Alexsandra. “Mas, o nosso desespero naquele momento era a nossa família. A gente saiu para buscar abrigo para eles, e a gente não conseguiu voltar para buscá-los”.
Depois de muita dificuldade, o pai conseguiu tirar o carro do alagamento.
“Os carros da minha frente começaram a rodar. Eu e ela clamamos a Deus por misericórdia. Ainda colocamos quatro pessoas dentro do carro”, relatou ele.
Após estacionarem em um local seguro, a mãe se desesperou ao perceber que não conseguiriam voltar para resgatar o filho.
“Ela queria voltar. E entramos na água e tentamos voltar caminhando. A água começou a bater no peito e a correnteza era muito forte. A água gelada, era madrugada, em torno das 5h da manhã”, lembrou o pai.
Emocionada, a mãe afirmou: “A gente só queria resgatar eles, de qualquer forma, no braço, trazendo nas costas. O que me doeu muito é [pensar]: ‘Como eu vou abandonar o meu filho?’ Foi muito difícil”.
Percebendo que corriam perigo em meio a enchente, Aldair convenceu a esposa a voltar após percorrerem quilômetros.
“Amor, se a correnteza te levar, eu vou perder vocês. Não sei como está a situação do meu filho, mas eu vou perder tu também aqui no meio dessa água”, disse ele, no momento.
O pai continuou tentando voltar e resgatar o filho e a sogra de outras formas, de jet ski, de carro maior, mas não conseguiu.
Refúgio
Ao voltar para um local seguro, Aldair encontrou um amigo que o aconselhou a dizer para sua família ir para um prédio de três andares próximo. O homem conseguiu ligar e avisar a sogra e o filho. Eles já estavam com a água batendo no peito e conseguiram se refugiar no terceiro andar.
Na manhã de sábado, 4 de maio, os pais perderam o contato com o filho, porque a energia elétrica foi cortada no bairro.
No prédio, o filho de 11 anos e outras crianças da família estavam sendo cuidadas por um tio. Na fuga, a única coisa que deu tempo de levar foi uma caixinha de leite e um pacotinho de bolacha, que serviu de alimento durante os três dias que permaneceram no local.
“Eles precisavam racionar, porque não sabiam quanto tempo eles iam ficar lá dentro. Então, era uma bolachinha para cada um durante o dia. Tinha 45 pessoas lá, eles precisavam distribuir. Uma família tinha um pouquinho de arroz e feijão, e eles misturavam dentro de um copinho descartável e comiam com as mãos”, contou Alexsandra.
E ressaltou: “Meu filho só tem 11 anos, a gente nunca imaginou que nosso filho passaria por uma situação dessas”.
Em lágrimas, a mãe descreveu a situação precária que o menino e outros moradores enfrentaram, enquanto esperavam por resgate.
“Eles tinham uma lona de loja, que abriram no chão e conseguiram dormir ali, todos molhados, com muito frio. Tinha cachorros fazendo necessidades no meio deles, as pessoas pisoteando”, comentou ela.
Socorro
No sábado (4), o casal entrou em desespero total.
“Não tinha mais força para orar, eu só gemia. O diabo vinha no meu ouvido e dizia: ‘Tu acha que vai conseguir recomeçar só vocês dois?’”, revelou Aldair. Então, ele clamou a Deus por socorro: “Pai, uma coisa te peço, que nós possamos estar todos juntos de novo”.
No outro dia, sua sogra ligou e avisou que eles haviam sido resgatados e estavam esperando para se reencontrarem em uma região não alagada.
Rapidamente, o casal dirigiu até onde a família havia desembarcado.
“Quando ele nos viu, todo molhado, tirou a mochila das costas, abriu os braços e correu junto de nós e abraçou. Todos que estavam ali se emocionaram conosco”, disse Aldair.
E o menino disse a eles: “Obrigado por serem os meus pais”.
Com a família toda reunida e à salvo, os cristãos foram abrigados na Igreja Lagoinha de Canoas e agora podem recomeçar juntos.
Guiame
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