"Diante do espelho, contemplamos a fraqueza e o vazio. Tal percepção conduz multidões à cachaça, às jogatinas e ao sexo excessivo", diz o colunista Edinázio Vieira.
Mazelas Pós Pandemia O Impacto da Nudez Revela o Vazio e o Fracasso da Humanidade. Foto: Divulgação
Diante do espelho, contemplamos a fraqueza e o vazio. Tal percepção conduz multidões à cachaça, às jogatinas, ao sexo excessivo, à frequência a cinemas, shows, teatros e a todos os tipos de entretenimento, buscando uma satisfação pessoal. Isso é um fracasso.
Ao longo de centenas de anos, a civilização fracassou. Mais de três bilhões de pessoas, segundo a OMS, sofrem algum tipo de distúrbio mental, neurológico ou cognitivo, manifestado por excesso de tristeza, menos-valia e baixa autoestima. Vivemos revestidos de cascas, vernizes e maquiagem para esconder as mazelas. Observemos as pessoas: quanto mais embalagem, quanto mais maquiagem no “produto”, menos conteúdo existe.
Os remédios não resolvem, a religião é uma máscara efêmera, e os sintomas fazem “caras e bocas” no espelho da vida, deixando o sujeito isolado, se lamentando. Então, ele busca o suicídio, não tolera o próximo e briga com os reflexos. A sombra das mazelas o persegue.
A pandemia obrigou o indivíduo a ter o encontro com ele mesmo. Então, esse ser se assustou, e tentou ao seu modo fazer uma “cirurgia psíquica”, realizando mudanças sem nenhuma metodologia. Quando buscou ajuda profissional, houve uma certa transferência desse profissional, que também foi vítima do mesmo processo.
A questão é: houve a vacina para a Covid; contudo, não há vacina, nem mesmo, até o momento, metodologia para curar a decepção do humano com ele mesmo.
A nudez ocorreu no momento em que tiramos a casca, a maquiagem, na hora que adentramos no nosso lar, nos aposentos, sem a capa de governante, juiz, artista, ou desprovidos de títulos ou de profissões. Passamos a ser apenas humanos impotentes.
Foi assim que, numa noite e num dia escuro, onde a resposta não vinha, o humano se deparou com sua nudez, não só diante de si, mas também da própria família. Nesse ambiente, todos estavam nus frente ao outro e de si, o que se tornou um choque fatal para expor e retirar a máscara que cobria a humanidade.
Após a pandemia, os sintomas berraram, o silêncio gritou. Todos os humanos passaram a buscar uma prótese externa ou interna para substituir o “útero materno”.
Estamos nus diante do outro, acreditando que vestimos as melhores indumentárias, enquanto fingimos que está tudo bem. Entretanto, o sofrimento psíquico faz morada quase eterna, e a vida, para muitos, são fardos dos quais eles tentam se livrar.
Estamos nus diante de um grande espelho: a vergonha do eu, as faltas, as dúvidas, e as incertezas face às próteses que foram usadas sem eficácia. A civilização espremeu as pulsões que resistiram e não se satisfizeram, parecendo um bicho preso que, quando se solta, ninguém segura. Será que a modernidade tenta parir um novo humano?
Diante das mazelas, pandemias, climas, guerras e terremotos, surgiu um ser desconfiado e pensativo que nós chamamos de humano.
Toda a tecnologia e as invenções humanas apenas distanciaram o humano dele mesmo. Estamos beirando o abismo da extinção, a vergonha da nudez do humano comprometeu a sua caminhada, e a dor e a falta contribuem para o fim.
Diagnósticos foram emitidos sem critérios sustentáveis, as soluções médicas falharam, os remédios inventados têm o selo da comunidade científica, mas são ineficazes. As próteses, tais como a religião e todas as alternativas, patinam. Está aí o humano nu, com a mão no bolso.
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