O empresário Vagner Borges Dias, conhecido como Latrell Brito, suspeito de comandar um esquema criminoso envolvendo licitações que favoreciam empresas ligadas ao Primeiro Comando da Capital (PCC), possui registro de Caçador, Atirador e Colecionador (CAC) e pelo menos três armas de fogo.

Conforme a denúncia oferecida pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP), que obteve conversas e imagens do celular de Latrell, o empresário e pagodeiro utilizava as armas, mesmo que legalizadas, de forma ilícita.

Em um dos vídeos obtidos pela investigação e descritos em relatório, Latrell pergunta a um interlocutor se deveria resolver o conflito sobre o qual conversavam com um dos três “brinquedinhos”, referindo-se às armas. A denúncia foi obtida pelo Estadão. O suspeito é considerado foragido da Justiça.

Segundo as investigações do Ministério Público, houve infiltração de uma quadrilha ligada ao PCC em prefeituras e câmaras municipais do interior e da Grande São Paulo para assumir contratos de limpeza e serviços que superam R$ 200 milhões. Os promotores observaram que a influência da facção pode ter alcançado até um pregão do Metrô no valor de R$ 14,1 milhões, conforme indicado em mensagens encontradas no celular do empresário Vagner Borges Dias.

O interesse do crime organizado nos registros de CACs

Casos de apreensão de arsenais em posse de integrantes dO PCC têm se repetido nos últimos anos. Com a facilitação do acesso a armas por civis durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a compra de armas de fogo legalizadas, via CACs, passou a interessar ao crime organizado por ser mais fácil e barata do que as velhas formas de acesso ilegal a armamentos, como via contrabando. O fenômeno aparece tanto em investigações policiais quanto em estudos de especialistas em segurança pública.

Como mostrou o Estadão, o Exército emitiu licenças de CACs para condenados por crimes como tráfico de drogas e homicídio, pessoas com mandados de prisão em aberto e para cidadãos que podem ter sido usados como “laranjas” do crime organizado entre 2019 e 2022.

Nesse período, foram concedidos certificados de registro para 5 235 pessoas em cumprimento de pena. Do total, 1.504 tinham processos de execução penal ativos quando submeteram a documentação ao Exército, mas não foram barradas. O Exército também liberou armas de fogo a 2.690 pessoas foragidas da Justiça. Os dados fazem parte de um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU).

Nesta quarta-feira, 24, em mais uma investida contra o “revogaço” proposto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) logo no início do mandato para reverter o acesso facilitado às armas na gestão do antecessor, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou um projeto de lei que delega aos Estados o poder de legislar sobre a posse e o porte de armas de fogo.

A permissão passaria a ser concedida pelos governos estaduais tanto para defesa pessoal como para práticas esportivas e de controle de fauna exótica invasora, o que pode beneficiar os CACs.

Estadão Conteúdo