03 de outubro de 2024 às 17:21 - Atualizado às 18:14
Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) Foto: Agência ESAO
Um episódio ocorrido durante o Teste de Aptidão Física (TAF) da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), em setembro deste ano, envolvendo dois capitães e um oficial general, continua gerando grande repercussão nas redes sociais relacionadas às Forças Armadas. As discussões se concentram em questões como abuso de poder, assédio moral e o efeito sobre a já comprometida imagem do Exército nas plataformas digitais, mobilizando a comunidade militar.
A situação quase resultou em um confronto físico. A Revista Sociedade Militar recebeu uma denúncia anônima que detalhou o incidente ocorrido no dia 10 de setembro, durante a execução do TAF nas proximidades da Vila Militar, em Deodoro, Rio de Janeiro. De acordo com o relato, um ciclista vestido de forma civil, ao passar por uma ciclovia utilizada pelos militares para o teste, teria proferido ofensas, gerando uma troca de insultos. O ciclista, que mais tarde se identificou como um oficial general, teria aumentado a tensão do momento, que por pouco não terminou em agressão física.
“Sai da frente bando de burro”, é a descrição da fala do general. “Em resposta, alguns militares também proferiram ofensas, e o ciclista continuou a discutir com eles ao longo do percurso. Algum tempo depois, o ciclista voltou e novamente provocou os militares, até que, em um ato inesperado, largou a bicicleta e agarrou o braço de um militar, o Capitão de Intendência G. (Turma AMAN 2014). O Capitão de Comunicações M. (Turma AMAN 2015) interveio, temendo que o confronto físico escalasse…”, diz trechos da denúncia recebida pela Revista Sociedade Militar
Buscando esclarecer os fatos, a editoria da Revista Sociedade Militar protocolou uma solicitação oficial ao Exército Brasileiro para verificar a veracidade das informações. Em resposta ao pedido, o Exército confirmou que o Teste de Aptidão Física ocorreu no dia 10 de setembro, na Avenida Duque de Caxias, na Vila Militar de Deodoro, e contou com a participação de capitães alunos da EsAO, dos cursos de Logística, Artilharia, Comunicações e Saúde.
Conforme a resposta oficial do Exército, após consulta ao Comando Militar do Leste (CML), foi informado que os capitães citados, Cpt. G. e Cpt. M., atualmente estão servindo na EsAO e são alvo de um processo administrativo para investigar os eventos daquele dia. O Exército também confirmou que o oficial general envolvido, Gen. E., comanda a Brigada de Infantaria Pára-quedista. Segundo o comunicado, os envolvidos foram notificados e um processo disciplinar foi instaurado para apurar as circunstâncias do incidente.
Embora a força tenha confirmado as datas do teste e a presença dos militares mencionados na denúncia, o comandante do Exército, general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, não se pronunciou sobre o assunto. Além disso, o Exército Brasileiro não confirmou a ocorrência de ofensas entre os militares, agressões físicas ou qualquer um dos fatos relatados na denúncia recebida pela Revista Sociedade Militar.
O episódio, que teria iniciado com uma troca de ofensas entre um ciclista que supostamente seria civil e os militares, escalou para um conflito que poderia ter sido facilmente evitado. Mais preocupante ainda é o fato de que o ciclista, após provocar os militares, conforme relata a denúncia, revelou-se um oficial general, complicando ainda mais a situação.
“Venho por meio desta realizar … denúncia anônima a respeito de um incidente ocorrido no dia 10 de setembro de 2024, durante a realização do Teste de Aptidão Física (TAF) da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), modalidade de corrida, às 06h15. Participavam do TAF militares dos cursos de Logística, Artilharia, Comunicações e Saúde. Durante a execução do TAF, onde mais de 100 militares corriam a velocidades elevadas, alguns ultrapassaram colegas que corriam mais devagar, utilizando parte da ciclovia do local. Nesse momento, um ciclista civil que passava pela ciclovia proferiu ofensas aos militares, dizendo: “Sai da frente bando de burro”. Em resposta, alguns militares também proferiram ofensas, e o ciclista continuou a discutir com eles ao longo do percurso. Algum tempo depois, o ciclista voltou e novamente provocou os militares, até que, em um ato inesperado, largou a bicicleta e agarrou o braço de um militar, o Capitão de Intendência G. (Turma AMAN 2014). O Capitão de Comunicações M. (Turma AMAN 2015) interveio, temendo que o confronto físico escalasse. Neste momento de tensão, o ciclista se identificou como o General de Brigada E., comandante da Brigada de Infantaria Pára-quedista. Apesar de ser um superior hierárquico, o general provocou e ofendeu os militares, contribuindo para agravar a situação. Após a troca de ofensas, os capitães continuaram o TAF, enquanto o general se dirigiu à organização do evento para formalizar uma reclamação. No dia 11 de setembro, os Capitães G. e M. receberam um Formulário de Apuração de Transgressão Disciplinar (FATD), que, no entanto, não registrou as ofensas proferidas pelo General de Brigada E. nem a situação de quase confronto físico iniciada pelo próprio oficial superior.”
O incidente, que teria começado com uma troca de ofensas entre um ciclista que supostamente seria civil e os militares, escalou para um conflito que poderia ter sido facilmente evitado. O que torna a situação ainda mais preocupante é que, após provocar os militares, o ciclista, conforme narra a denúncia, se identificou como um oficial general, complicando ainda mais o episódio.
A repercussão gigantesca do caso, que rapidamente circulou nas redes sociais ligadas às Forças Armadas, gerou uma série de charges bem humoradas, figurinhas irônicas e trouxe à tona preocupações sobre como situações como essa podem manchar a imagem do Exército Brasileiro. Outra questão abordada em discussões é como a internet potencializa o poder de vigilância da sociedade, questões que anteriormente permaneceriam ocultas da população comum agora chegam rapidamente ao conhecimento da sociedade.
O fato de o bom nome da instituição estar sendo associado a um conflito interno entre seus próprios membros e – pior – envolvendo o comandante de uma tropa de elite – é um alerta para a importância de preservar a camaradagem, pudonor militar, disciplina e a hierarquia em todos os níveis, especialmente em relação à conduta de oficiais generais, aqueles que realmente tem prerrogativas para movimentar grandes contingentes.
A expectativa agora recai sobre o desfecho do processo administrativo em andamento. Se os oficiais forem punidos o Exército estará de certa forma endossando a conduta do oficial general e se forem absolvidos, a expectativa poderá recair sobre a possível punição do oficial general.
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