O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), divulgou a primeira estimativa preliminar do custo para a reconstrução inicial de grande parte do território após a maior tragédia ambiental do Estado: R$ 19 bilhões.

O desastre ambiental e a crise humanitária seguem em curso, com quase 1,5 milhão de afetados e aumento do número de municípios atingidos dia a dia, com 425 das 497 cidades gaúchas impactadas. Ao menos 164,5 mil gaúchos estão desalojados.

Um maior detalhamento será divulgado pelo governo estadual ao longo da quinta-feira, 9. O cálculo não inclui todos os danos materiais dos atingidos, dentre empresas, residências e outros espaços. Na prática, o impacto será ainda maior para uma recuperação.

A sucessão de chuvas extremas, deslizamentos, vendavais e enchentes bloquearam centenas de vias, rodovias, pontes e acessos diversos pelo Estado. A destruição deixou municípios praticamente inteiros debaixo d’água. Onde as cheias baixaram, a devastação começa a ficar ainda mais evidente, como no Vale do Taquari, porém há previsão de novos temporais e repique nas cheias a partir de sexta-feira, 10.

Grande parte dos municípios vivem crise no abastecimento de água, energia e mantimentos.

Custo total de reconstrução pode ser próximo de R$ 100 bilhões, diz economista

Para especialista ouvido pelo Estadão, o custo da reconstrução ficará mais claro após o fim da tragédia ambiental, quando as águas baixarem e toda a destruição estiver mais evidente. Serão necessários estudos e levantamentos variados para identificar os impactos, assim como para avaliar mudanças e adaptações para evitar que situações tão graves se repitam.

Cálculos preliminares do economista Claudio Frischtak, da consultoria Inter B, indicam que a reconstrução exigirá ao menos R$ 92 bilhões ou 0,8% do PIB.

O especialista destaca que o Rio Grande do Sul tem cerca de 5% da população brasileira, e que o estoque de infraestrutura do País chega a 36% do PIB. “O Estado deve refletir a média do País ou pouco menos, algo em torno de 1,5% do estoque (da infraestrutura). Se metade foi destruída ou danificada ao ponto de ter de ser reconstruída, podemos então indicar que o custo seria cerca de 0,8% do PIB ou R$ 92 bilhões”, afirmou.

Como as novas obras terão que levar em consideração o risco climático, o gasto tende a ser maior. “O custo de reconstruir com maior resiliência (às chuvas) é possivelmente maior do que o foi no passado. Além disso, nem toda infraestrutura urbana que foi fortemente afetada está refletida naquele nível de estoque, a exemplo de vias urbanas e prédios públicos. Logo, o número pode ser maior do que R$ 92 bilhões”, afirmou.

Ele entende esse número como um ponto de partida, um dado que indique o tamanho do desafio que será a reconstrução após a tragédia. “É uma estimativa em termos de ordem de magnitude. Só saberemos de fato quando as águas baixarem e se puder fazer uma avaliação criteriosa”, afirmou.

Segundo ele, o governo federal precisará remodelar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), para direcionar parte dos recursos para o estado. Além disso, as emendas parlamentares terão que se concentrar no essencial, com análises baseadas no custo-benefício de cada projeto. “Neste momento, precisamos nos afastar do populismo fiscal e do patrimonialismo com dinheiro público”, afirmou.

Estadão Conteúdo