O cenário eleitoral polarizado de 2018 está se repetindo em 2022. Dessa vez, lideram a disputa o atual presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula. Veja as previsões das principais pesquisas eleitorais para 2022.

Como são feitas as pesquisas eleitorais?

Com o intuito de facilitar a compreensão do leitor, segue um resumo aproximado de como são feitas algumas pesquisas:

  • cerca de 2000 a 3500 pessoas são entrevistadas;
  • as pesquisas duram de 2 a 3 dias;
  • os entrevistados estão espalhados entre 150 a 200 municípios;
  • a margem de erro costuma ser de 2 pontos percentuais (ex.: se a pesquisa afirma que o candidato Fulano está com 20% de intenção de voto, ele pode ter algo entre 18% e 22%);
  • o modelo de pesquisa oferece 95% de confiabilidade. Segundo os institutos de pesquisa, mesmo que mais 100 pessoas fossem entrevistadas, o provável é que 95 respostas seguissem o padrão do que já foi coletado entre o público selecionado.

Esses pontos não excluem intervenções arbitrárias em pesquisas. O cenário ideal considera fidelidade aos resultados e à pesquisa em si. Atualmente, as pesquisas levantam dúvidas quanto a sua confiabilidade.

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Um dos pontos que levantam um sinal de alerta para analistas políticos hoje envolve os perfis das amostragens das pesquisas. Informações como: renda salarial, idade, sexo e religião são levadas em conta nas pesquisas.

Os institutos de pesquisa têm usado critérios diferentes para definir o perfil dos entrevistados.

Na pesquisa do Ipec, 57% da população recebe de 0 a 2 salários mínimos. Enquanto na da Quaest, o número cai para 38%. Nenhum dos valores conversa com o último censo do IBGE, em 2010.

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Os dados que estipulam os perfis das amostragens não conversam entre si. Alguns institutos usam o censo de 2010 de referência, outros usam dados do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2021 e há casos em que nenhum desses bancos de dados são utilizados.

Um dos grupos com os votos mais disputados nessas eleições são os evangélicos. Em algumas pesquisas, eles são considerados 25% da população, enquanto outras colocam como 31% ou até 36%.

A imprecisão dos dados aumenta a desconfiança nos resultados.

Confira no gráfico abaixo a diferença entre as pesquisas e os resultados das eleições dos últimos anos no Brasil:

gráfico

As linhas representam a diferença do resultado para o que estava previsto nas pesquisas de cada eleição. A linha vertical vermelha representa o início da campanha eleitoral.

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Nas eleições de 2018, a 1 dia da votação, as pesquisas apontavam diferenças de 10 pontos percentuais para o resultado final.

Sobre o uso de pesquisas manipuladas, confira o último tópico desta matéria: Janela de Overton e as pesquisas eleitorais. 

Neste ano, vários institutos já divulgaram seus resultados. 

As principais pesquisas para presidente em 2022

Em janeiro de 2022, a pesquisa Genial/Quaest apresentou o seguinte resultado:

  1. 45% Lula;
  2. 23% Jair Bolsonaro;
  3. 9% Sérgio Moro;
  4. 5% Ciro Gomes;
  5. 3% João Doria;
  6. 1% Simone Tebet.

Passados 7 meses, alguns candidatos abandonaram a disputa e os resultados mudaram. A pesquisa Correio/Opinião apresentou os seguintes resultados no dia 23/08:

  1. 39% Lula;
  2. 36,7 Jair Bolsonaro

No dia 05/09 saiu o resultado da pesquisa Correio/Opinião, que apontou:

  1. 41,4% Jair Bolsonaro;
  2. 29,8% Lula;
  3. 9,2% Ciro;
  4. 4,8% Simone Tebet.

Ainda de acordo com esta pesquisa, Lula perde em todos os cenários de 2º turno.

No dia 8 de setembro, saiu a pesquisa da Modalmais/Futura:

  1. 42% Jair Bolsonaro;
  2. 36% Lula;
  3. 8% Ciro Gomes;
  4. 5% Simone Tebet.

Um dia depois, a pesquisa do Datafolha apresentou resultados distintos:

  1. 45% Lula;
  2. 34% Jair Bolsonaro;
  3. 7% Ciro Gomes;
  4. 5% Simone Tebet;
  5. 1% Soraya Thronicke;
  6. para o 2º turno, o Datafolha prevê uma vitória de Lula com 53% sobre Bolsonaro, com 39%.

No dia 14, duas pesquisas marcaram a vantagem de Lula ao mesmo tempo que uma delas apontou um crescimento dos números de Bolsonaro:

  • Pesquisa Genial/Quaest:
  1. 42% Lula;
  2. 34% Jair Bolsonaro;
  3. 7% Ciro Gomes;
  4. empatados com 1% dos votos: Simone Tebet; Felipe D’Avila e Soraya Thronicke.
  • Pesquisa PoderData:
  1. 43% Lula;
  2. 37% Jair Bolsonaro;
  3. 8% Ciro Gomes;
  4. 5% Simone Tebet.

O Instituto Paraná Pesquisas trouxe resultados que reduziram a diferença entre Lula e Bolsonaro em uma pesquisa no dia 20/09:

  1. 40,1% Lula;
  2. 36,4% Jair Bolsonaro;
  3. 7,2% Ciro Gomes;
  4. 4,6% Simone Tebet

A diferença entre Lula e Bolsonaro manteve-se oscilando entre 7 e 10 pontos percentuais nas pesquisas mais recentes. No dia 21:

  • Pesquisa Genial/Quaest:
  1. 44% Lula;
  2. 34% Jair Bolsonaro;
  3. 6% Ciro Gomes;
  4. 5% Simone Tebet;
  5. 1% Soraya Thronicke;
  6. para o segundo turno, a pesquisa prevê Lula x Bolsonaro, com a vitória do petista com 50% dos votos, contra 40% do atual presidente.
  • Pesquisa PoderData:
  1. 44% Lula;
  2. 37% Bolsonaro;
  3. 7% Ciro Gomes;
  4. 4% Simone Tebet;
  5. 1% Felipe D’Avila;
  6. 1 Simone Thronicke.

A poucos dias das eleições, a disputa entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva segue intensa. As pesquisas mostram diferentes cenários e resultados que não se comunicam.

Com resultados de pesquisas tão díspares, uma discussão costuma surgir: como os resultados podem influenciar a opinião pública?

A Janela de Overton e as pesquisas eleitorais

Muitas pessoas pensam que têm opinião formada sobre um assunto. Na verdade, não é difícil que elas tenham sido induzidas a pensar de uma certa maneira.

Se uma pessoa está na mesma posição contemplando a paisagem através de uma janela, tudo o que ela vê está delimitado pelas esquadrias e pelo batente. À medida que se levanta e se aproxima da janela, o horizonte se amplia.

A Janela de Overton muda paisagens ou amplia limites no campo das ideias. Até que ponto as pesquisas não servem como as esquadrias e batentes de uma janela?

As etapas de uma ideia na Janela de Overton são:

  1. Inaceitável;
  2. Verossímil (talvez pense nisso);
  3. Neutralidade (sem opinião formada);
  4. Provável (é possível concordar);
  5. Inevitável (ou aceitável).

O conceito foi criado por Joseph P. Overton, para analisar fenômenos de segurança pública. Sua ideia pode ser aplicada a múltiplos cenários sociais.

As pesquisas podem criar a aceitação de cenários que parecem improváveis.

O Brasil conta com uma população de cerca de 215 milhões de habitantes, conforme o censo do IBGE de 2022. Em todo o Brasil, são 5.568 municípios. Enquanto as amostragens contemplam no máximo 3000 pessoas e 200 municípios.

O jornalista Cláudio Dantas do jornal O Antagonista, apurando diferentes resultados de pesquisa, questionou: “qual é a justificativa técnica para essa diferença?”, Dantas vai além: “isso aí virou uma ferramenta eleitoral, de manipulação da opinião pública”.

As pesquisas determinam os rumos das campanhas eleitorais, da opinião compartilhada nos meios de comunicação, tudo isto interfere nos rumos das eleições.

O Tribunal Superior Eleitoral está investigando o crescente número de pesquisas que surgem ao redor do país. Muitos institutos levantam recursos próprios para obter dados, o que pode interferir na lisura do processo.

Segundo dados do próprio TSE, 3.499 pesquisas que seguem esse padrão foram registradas neste ano – 174% a mais na comparação com o mesmo período em 2016 (1.279).

Segundo o jornal O Globo:

“O Ipop Cidades & Negócios lidera o segmento. Em oito meses, investiu R$ 650 mil em 350 pesquisas, em 192 cidades — todas praticamente com o mesmo custo, de R$ 2 mil, independentemente do tamanho da amostra e do local”.

Pesquisas podem realmente demonstrar o que uma amostragem considera sobre o cenário pesquisado, como também podem induzir um grupo a partir da divulgação de resultados alterados.

Fonte: Brasil Paralelo