O ministro decano do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, afirmou neste sábado, 23 de março, que o ministro Alexandre de Moraes não deve ser impedido de julgar os crimes relacionados aos atos de 8 de Janeiro de 2023 e a investigação sobre a suposta tentativa de golpe de Estado no entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A declaração ocorre em meio a pedidos dos advogados de Bolsonaro que cobram a saída de Moraes da relatoria dos casos, por considerarem que o magistrado se coloca como “vítima e julgador” da trama.

Em entrevista à CNN, o decano afirmou que o impedimento de Moraes “não faz sentido algum”. Gilmar disse também que os golpistas tentaram atacar o magistrado porque ele estava cumprindo o papel de defender as instituições durante o término do governo Bolsonaro.

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No mês passado, a defesa de Bolsonaro apresentou um recurso para tentar afastar Moraes do inquérito.

O presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, negou o pedido afirmando que o ex-presidente não conseguiu comprovar que o magistrado foi parcial ou tem interesse na investigação.

Seis dias após a decisão de Barroso, os advogados do ex-presidente entraram com outro pedido, solicitando que o presidente da Corte reconsidere a decisão ou leve o pedido de afastamento para julgamento no plenário do Supremo.

Durante as investigações sobre a tentativa de golpe, a PF descobriu que Moraes foi monitorado clandestinamente durante o governo anterior e que aliados de Bolsonaro envolvidos na trama golpista queriam a prisão do ministro.

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Na avaliação dos advogados do ex-presidente, esses fatos comprometem a sua imparcialidade.

Moraes prendeu Mauro Cid após áudios com críticas

Nesta sexta-feira, 22, Moraes ordenou a prisão do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, após a revista Veja divulgar áudios em que Cid disse que foi forçado a firmar a colaboração premiada que fez com a PF.

O tenente-coronel também atacou o ministro e disse que o inquérito que apura a tentativa de golpe é uma “narrativa pronta”.

Antes de ser preso, Cid prestou depoimento com um juiz auxiliar de Moraes e disse que não foi forçado a fazer a delação.

Ainda na sexta, o magistrado retirou o sigilo da oitiva como forma de “afastar qualquer dúvida sobre a legalidade, espontaneidade e voluntariedade da colaboração”.

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Em um dos áudios divulgados pela Veja, Cid disse que Alexandre de Moraes seria “a lei”.

No depoimento ao STF, o tenente-coronel desconversou e disse que os ataques ao ministro e aos investigadores da PF foram um mero desabafo de “quem quer chutar a porta e acaba falando besteira”.

Cid disse também que a conversa era “privada, informal, particular e sem o intuito de ser exposta pela revista”, mas não quis contar quem era o destinatário do “desabafo”.

Estadão Conteúdo