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Como teólogo e psicanalista vivo um dilema pessoal, pois há um confronto com a minha formação em psicanálise clínica. Se persigo o caminho do cristianismo me esbarro com a figura do padre e do pastor, os dois são ouvintes, função também exercida pelo psicanalista que discorda frontalmente dos dois religiosos, na forma da escuta e na avaliação. A ideia da alma do psicanalista é diferente, esse investiga a mente.
Usamos “máscaras” cotidianamente que contribui para aceitarmos as fakes produzidas pela sociedade contemporânea e assim agimos sem pensar, sem poder de escolha, o impulso dita nossas decisões e ações no dia a dia.
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A busca pelo prazer é uma meta nesse século, pois as redes sociais produziram os “gurus” do sucesso que formam ilusões usando técnicas de coaching e mentoria para treinar pessoas com a promessa do sucesso imediato.
O cérebro é impactado por impulsos, esse contato com o mundo digital através dos smartphones, computadores e a conexão com as redes sociais vicia, cria dependência e fabrica comportamentos compulsivos, são atos cerimoniais que escravizam pessoas transformando-as em “zumbis”, produzindo vários tipos de transtornos como de ansiedade, depressão e TOC.
Pessoas que se vestem, se alimentam, mas não saboreiam, não sentem prazer, tornaram-se pessoas automatizadas.
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O comportamento repetitivo que produz dependência vem antes de Cristo. Daniel, por exemplo, foi jogado na cova dos leões, segundo o velho testamento, ele violou um decreto do rei: a proibição da oração pública. Contudo, Daniel tinha o hábito de orar várias vezes ao dia com a janela aberta.
O ato repetitivo é compulsivo, a religião, a escola e certos tipos de trabalhos tem um cerimonial que criam dependências, escravizam as pessoas. Sabemos que o cérebro gasta 30% de toda energia produzida pelo corpo, assim, esse age como um camaleão se ajustando as situações.
O que é ser desalmado, perder a alma? É ser descapitalizado da energia psíquica, perder o direito de escolha, viver a vida do outro, agir de forma inconsciente, ser dominado por campanhas publicitárias, pelo discurso do outro e por um sistema criado para manipular.
Nesse contexto, posso afirmar que temos uma população padecendo de vários transtornos psíquicos e mentais sendo exposta ao caos, visto que iremos regredir para menos saúde mental e atingiremos os distúrbios neurológicos.
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O neurologista Oliver Sacks, em sua obra “O homem que confundiu sua mulher com um chapéu”, nos exibe a fragilidade humana e os fenômenos que a mente pode produzir, a partir daí muitos poderão perder a alma e a ciência não apontará solução para o inexplicável, pois a forma de vida humana irá produzir as “máquinas humanas”, onde as suas almas serão aprisionadas em nome da produtividade, ainda assim, a compulsão e a vontade surgirão disfarçados de prazer, entretanto tudo será artificial estimulado por um opioide moderno.
O padrão de felicidade criado pelo século XXI tem componentes recheados pelo consumo, a coisificação está em alta: possuir acessórios e vestuários de marca, realizar viagens, pertencer a grupos, fazer graduações e pós, contratar personal trainer e frequentar alguns locais, desde que essas coisas tenham a digital dos empoderados das redes sociais ou do mercado.
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Aquele que agoniza, que chora, que se lamenta é descartado da onda dos enlatados, há um kit da felicidade, existe uma senha para adentrar nesse mundo mágico do prazer, mas para ter acesso ao pacote da beneficência é necessário pagar, sem dinheiro não se pode adquirir a felicidade.
O perigo dessa continuidade de comportamento é a insensibilidade que a humanidade vai adquirir, essa será a marca da besta, tão falada no livro de apocalipse.
Esse selo será tatuado, colocado no lugar da alma, pois os novos desejos serão implantados, o poder de decisão artificial e o juízo crítico estarão na nova bíblia, essa última criada pelos poderosos de plantão que ditarão regras.
Esse ponto de vista está calcado em análise realizada tendo como base a história, a sociologia, a teologia, a antropologia, a psicanálise, a filosofia e a neurociência.