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As chamadas doenças mentais tomaram proporções gigantescas nos últimos anos, o pós-pandemia revela, descortina, tira a máscara e exibe uma nação que padece. A OMS (Organização Mundial de Saúde) aponta o Brasil como o país com o maior número de ansiosos do mundo e o quinto quando se fala de transtorno depressivo, além de possuir cerca de 90% da população estressada. Esses dados assustam qualquer analista comportamental, pois estamos mensurando só dois tipos de transtornos. Se os brasileiros fossem submetidos a critérios mais rígidos e a régua de avaliação para o diagnóstico usada fosse o DSM 5 ou CID 11, o percentual se elevaria de uma maneira tal que seriamos julgados como uma nação excludente.

Nesse artigo seguirei uma linha ténue para expressar as mazelas do povo brasileiro e reduzir os barulhos provocados pelas nossas mentes. Nessa primeira etapa da argumentação, vamos deixar de lado as avaliações neurológicas, psiquiátricas e psicológicas, adentraremos nas questões psíquicas buscando o viés emocional. Nem tudo é doença mental, nem tudo é transtorno, contudo, as queixas emocionais podem evoluir e causar danos.

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Vejamos o mundo contemporâneo, ele exige padrões e impõe regras que emparedam o humano, são ações coercitivas disfarçadas de prazer que viciam e criam dependências, devido as ações repetitivas. Esses comportamentos robotizam, criando no cérebro uma espécie de recompensa, os neurotransmissores dopaminérgicos se encarregam de criar motivação para uma atividade que antes era exaustiva e chata. Há uma expressão popular que diz “comemos com os olhos”, pois os neurônios espelhos são acionados quando vemos pessoas se movimentando ou praticando esportes, por exemplo.

Temos a vontade de copiar e fazer e nesse momento, o cérebro se realiza como se estivesse executado a atividade. Somos seres guiados pela neuroquímica? Essa é a questão. Na contramão de vários cientistas, afirmo que somos pessoas, parecidas com os animais, mas diferentes, pois temos cérebro, mente e alma e nessa conceituação posso afirmar que as questões psíquicas produzem desequilíbrio emocional ao humano, esse transtorno emocional provoca desajuste de comportamento que pode ser atenuado com o autoconhecimento e a terapia. Esse conceito escapa da padronização que estaríamos doentes mentalmente, e sim estamos passando por uma peste emocional.

Os desejos que foram impostos a essa civilização não são genuínos. Zygmunt Bauman, sociólogo e filósofo polonês, afirma que vivemos em uma sociedade marcada pelo conflito: ser versus ter. A “violência cultural” impõe a metodologia do desejo que mutila o conjunto psíquico, pois os desejos naturais são abandonados, fragilizando o supereu que, por sua vez, funciona automaticamente, visto que novas crenças e novos sentimentos são fabricados. Nessa fase aparece o ser moderno com um novo padrão de felicidade e comportamento fugindo do contato natural e buscando o artificial como meta e parâmetro.
Diante dessa exposição posso afirmar que vivemos no século do prazer e buscamos o subjetivo como algo concreto. Concluo congratulando-me Tom Jobim e Vinicius de Moraes: “tristeza não tem fim, felicidade sim”.

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A nação está transtornada, pois quer deixar de ser humana para ser um produto influenciado e criado pela tecnologia.

Edinázio Vieira e Silva é um bacharel em Teologia e um Psicanalista Clínico, com títulos de Mestre e Doutor em Ciência da Educação, com ênfase em psicanálise. Ele é o criador do programa Pró-Emoções, que se dedica à promoção do crescimento pessoal e à transformação do comportamento individual. Além disso, ele também é o fundador da Academia do Cérebro, uma instituição que atua há mais de 15 anos oferecendo consultoria e capacitação na área da saúde mental.