Em uma derrota para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) foi eleito presidente da Comissão de Educação, por 22 votos favoráveis e 15 votos brancos.

Petistas alegam que o PL quebrou o acordo estabelecido e fez a indicação de última hora para tentar barganhar com o PT pela vice-presidência no colegiado de Saúde.

Como mostrou o Estadão, o governo trabalhou para a mudança na indicação e pediu para que nenhum deputado marcasse presença para não haver quórum.

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A sessão, que deveria iniciar às 15h30, apenas começou por volta das 19h30.

Essa é outra derrota para o PT. Mesmo com o governo tentando barrar, o PL conseguiu eleger Carol de Toni (PL-SC), uma das mais fervorosas oposicionistas, para a Comissão de Constituição e Justiça, a principal comissão da Câmara.

Com pouco menos de um ano de atividade como deputado federal, Nikolas é um dos deputados que compõem a linha de frente de parlamentares apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que provocam governistas.

Em um dos principais episódios, que rendeu uma representação feita pelo PT no Conselho de Ética, Nikolas colocou uma peruca, disse ser “deputada Nikole” e pregou contra o feminismo no plenário da Câmara.

Samia Bomfim (PSOL-SP) diz que Nikolas não poderia assumir a função em razão de ser réu por transfobia após expor uma adolescente transexual de 14 anos nas redes sociais, em 2023.

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Ele divulgou um vídeo no canal do YouTube, em que criticava a presença de uma aluna transexual em um banheiro feminino de uma escola da cidade.

No vídeo, intitulado “travesti no banheiro da escola da minha irmã”, o deputado expôs o nome do colégio e mostrou o momento em que a aluna foi questionada pela irmã dele, também menor de idade, dentro no banheiro feminino.

O pedido foi indeferido pelo presidente em exercício da sessão instaurada, Moses Rodrigues (União-CE).

Para Tabata Amaral (PSB-SP), a escolha trata-se de uma “vergonha” para a história do colegiado “apequenado” por escolher um deputado “extremista”.

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Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), primeiro-vice-presidente da Câmara fez um apelo, dizendo que Nikolas ouvirá a todos, inclusive deputados do PT.

Nikolas não esteve presente na sessão já que está de licença-paternidade. Rogério Correia (PT-MG) diz que a ausência seria como passar um “cheque em branco” para Nikolas, já que não há nenhum compromisso pela restrição de apresentação de pautas ideológicas. Por isso, alega ele, não pode votar em Nikolas.

Correia afirma que o acordo com o PL previa o deputado Joaquim Passarinho (PL-PA) seria indicado, o que não aconteceu.

Nos bastidores, PT e PL negociam para que as siglas possam indicar, respectivamente, o primeiro-vice-presidente das comissões de Educação e Saúde. Esta última será presidida pelo petista Dr. Francisco (PI).

Na reunião com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e demais líderes partidários, o acordo chegou a ser firmado.

O cenário mudou minutos depois.

Dentro de grupos do PT no WhatsApp chegou a orientação do líder da bancada, Odair Cunha (MG), para que os deputados não dessem quórum nas reuniões de instauração das comissões, com a finalidade de adiar o funcionamento delas.

Logo demais integrantes da sigla manifestaram discordância com o primeiro acordo e pediram o rompimento.

Petistas ouvidos pela reportagem reservadamente alegam que a manobra por Nikolas trata-se de uma estratégia para garantir controle na Comissão de Saúde, que é dona, com sobras, do maior repasse com as emendas de comissão turbinadas em 2024. O PT, que a comanda, será responsável por destinar R$ 4,5 bilhões.

A definição pelas vice-presidências ficou para a próxima semana e é possível que as negociações passem por alterações.

Antes mesmo de a sessão abrir, houve um debate entre deputados de direita e esquerda na sala da comissão.

Tarcísio Motta (PSOL-RJ) disse que há a preocupação na ala progressista da Câmara que Nikolas na presidência pautaria temas polêmicos e deixaria de lado “problemas reais” do País, em conversa com deputados do PL, entre eles Domingos Sávio (MG), Sóstenes Cavalcante (RJ) e Bia Kicis (DF).

Ele também citou preocupações de que o PL não faça indicações de deputados de esquerda a relatorias ou que não sejam pautados temas caros ao espectro político, competências de um presidente de comissão.

Sóstenes respondeu.

Estadão Conteúdo