Diante da pouca aderência no eleitorado evangélico, depois de um ano e quatro meses de mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou um périplo por Estados para tentar atrair o segmento perdido desde o avanço do bolsonarismo.

O empenho, evidenciado nesta quinta-feira, 5 de abril, em discurso do presidente em Pernambuco, mantém a lógica política do petista de, ao mesmo tempo, alimentar a polarização que marcou a última campanha eleitoral.

Além de tentar modular o discurso do presidente, faz parte da estratégia do governo o lançamento da campanha publicitária “Fé no Brasil”, que jogará holofotes sobre os programas sociais.

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Ao inaugurar ontem uma obra ligada à transposição do rio São Francisco, no município de Arcoverde (PE), Lula citou Deus 11 vezes, a palavra milagre 16 vezes e mencionou fé em cinco momentos.

Ele chegou a classificar de “milagres da fé” as obras de seu governo no Estado, logo depois de criticar quem “usa o nome de Deus em vão”.

A fala do petista é uma reação ao apoio que líderes religiosos, principalmente evangélicos, dão a Jair Bolsonaro (PL).

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Aceno

Na nova campanha publicitária definida pelo governo, serão exibidos filmes que tentam juntar marcas da gestão e, ao mesmo tempo, fazer um aceno aos evangélicos.

A campanha será regionalizada e o conceito básico foi apresentado recentemente a secretários executivos e chefes de assessorias de imprensa dos ministérios pelo titular da Comunicação Social, Paulo Pimenta, e pelo marqueteiro Sidônio Palmeira.

A ideia é que, neste ano de eleições municipais, os ministros também comecem a falar sobre programas do governo de todas as pastas, e não somente sobre sua área, na tentativa de atrair a atenção da população mais pobre, de mulheres e de religiosos.

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Ex-líder da bancada do PT na Câmara, o deputado Zeca Dirceu (PR) afirmou que “será bom para Lula e para os evangélicos” se houver uma reunião entre o presidente com lideranças evangélicas.

O reverendo Luis Alberto Sabanay, pastor presbiteriano e assessor de Políticas da Secretaria Nacional de Movimentos Populares do PT, avalia que o governo precisa promover ajustes na estratégia de comunicação para atuar de forma mais direta com os evangélicos.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), Sabanay reconheceu a dificuldade da gestão Lula em atrair parte desse segmento e disse acreditar que o Poder Executivo deve promover mais o diálogo com líderes religiosos.

Sabanay afirmou que é “fundamental” enxergar esse público em contextos além do religioso e do eleitoral, como cidadão.

A última consulta feita pelo DataFolha, há duas semanas, mostra que a reprovação do petista cresceu entre os evangélicos, de 38% para 43%, um aumento de cinco pontos porcentuais de dezembro para março. A aprovação do presidente passou de 26% para 25%.