13 de janeiro de 2025 às 21:34 - Atualizado às 23:08
Fazenda urbana de FOLHA DA MACONHA, em Olinda, se prepara para atender demanda com fins medicinais Foto: Divulgação
A Aliança Medicinal, a primeira fazenda urbana de Cannabis sativa para fins medicinais do país, ampliando suas instalações em Olinda, Pernambuco, a fim de atender ao aumento da demanda por óleo medicinal. A edição 2024 do Anuário da Cannabis Medicinal no Brasil, publicado pela Kaia Mind, revela que 672 mil pessoas fizeram tratamentos com derivados da Cannabis no país no ano passado. O número é considerado um recorde e é 56% maior do que o registrado em 2023.
O crescimento é acompanhado pela Aliança, que abre as portas para médicos interessados em informações técnicas para prescrever o medicamento que, a cada dia, é mais pedido pelos pacientes que estão mais informados e perdendo o preconceito contra a maconha, o nome popular da Cannabis sativa.
“Conheci a Cannabis quando minha mãe teve câncer e eu ainda era estudante de medicina e passei a pesquisar a planta e entender seus benefícios, mas sofria discriminação dos próprios colegas. Hoje eles querem conhecer o processo da Aliança, que vai do cultivo à fabricação e distribuição do óleo, e suas inúmeras possibilidades para tratar doenças como o câncer, fibromialgia, reumatismo, depressão, epilepsia e até o autismo”, revela a diretora-médica da Aliança Medicinal, Rafaela Espósito.
Regulamentada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para cultivar a planta e produzir o óleo medicinal à base do THC (tetrahidrocanabinol) e do CBD (canabidiol), os fitocanabinoides mais conhecidos da Cannabis, a Aliança é fruto da batalha da sua presidente, Hélida Lacerda, que via seu filho Antonny sofrer até 80 convulsões por dia. Portador de epilepsia refratária e apraxia progressiva, aos 12 anos uma médica disse que ele teria só mais um ano de vida.
“Comecei a cultivar a planta, em casa, e a produzir o óleo para salvar meu filho. Tinha medo de ser presa, mas o medo maior era de perder Antonny”, recorda Hélida.
Hoje, nove anos depois, ele segue estável e passa meses sem crises graças ao tratamento com a cannabis. Que, embora tenha começado clandestinamente, foi autorizado pela justiça. A partir daí Hélida passou a ensinar outras mães a cultivar e produzir o óleo medicinal e foi ganhando decisões judiciais favoráveis que contribuíram para a fundação da Aliança Medicinal, entidade sem fins lucrativos que atende nove mil associados em todo o Brasil.
Até chegar a este número, a entidade passou por processos jurídicos que resultaram numa liminar do Tribunal Regional Federal da 5ª Região que lhe assegurou o direito de cultivar, manipular, fabricar, armazenar, transportar e dispensar o medicamento extraído da Cannabis sativa. Ou seja, toda a cadeia produtiva.
Por não visar lucro, os produtos são vendidos a preço de custo, ficando muito mais baratos do que os importados e assegurando o acesso às pessoas que não podem arcar com os custos ainda muito altos do tratamento. Nas versões CBD, THC e misto (CBD+THC) os preços variam de acordo com a concentração do princípio ativo: R$150,00 (1,5%), R$ 260 (3%) e R$ 390,00 (6%). Existe ainda uma versão CBD com concentração de 10%, ao custo de R$ 500,00.
Com a liminar, as pesquisas do engenheiro agrônomo e diretor executivo da Aliança Medicinal, Ricardo Hazin, para produção agrícola em contêineres climatizados encontraram mais uma motivação: produzir cannabis para atender pessoas que não tinham acesso ao óleo medicinal. E foi assim que a associação de pacientes evoluiu entrando no segmento econômico do Terceiro Setor.
A especialização de Ricardo Hazin na Green Flower, escola dos Estados Estados Unidos especializada no cultivo da Cannabis sativa, foi essencial para a criação do método de produção da Cannabis desenvolvido por ele na Aliança Medicinal. Para o cultivo, foram escolhidas apenas plantas fêmeas, evitando cruzamentos que possam comprometer o padrão de qualidade da matéria-prima.
“A reprodução é feita por clonagem, a partir de um material vegetal que fica 25 dias no ‘bercário, o primeiro contêiner, para desenvolver o sistema radicular e virar uma muda. Depois ela é transplantada para o contêiner de desenvolvimento e passa por dois estágios: crescimento vegetativo e floração, onde se desenvolvem os tricomas, pequenas glândulas que parecem gotículas e concentram os canabinoides e substâncias medicinais necessárias para a produção dos medicamentos no nosso laboratório”, explica o engenheiro agrônomo.
Para isso acontecer, os contêineres são climatizados e dotados de sistemas que controlam o fotoperíodo e intensidade luminosa, temperatura, umidade e circulação do ar, além de uma solução de nutrientes. O resultado é a simulação do ambiente ideal para obter plantas com a qualidade exigida na produção de medicamentos.
“Já temos a patente da produção de cannabis em contêineres que se transformam num equipamento plug and play (conecte e use), que pode ser levado e operado em qualquer local”, adianta Hazin.
A criação de um marco legal em Pernambuco com a Lei 18.757/2024, sancionada em dezembro pela Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), garantiu o fornecimento dos medicamentos derivados de Cannabis pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ampliando o acesso aos tratamentos – ainda muito caros para a maioria da população. Neste cenário, a Aliança Medicinal se prepara para ampliar seu propósito de assegurar a todos os pacientes o direito de tratar a saúde com medicamentos que, de acordo com a médica Rafaela Espósito, praticamente não possuem efeitos colaterais e não causam dependência, como muita gente imagina.
Neste início de 2025, começaram os reinvestimentos na ampliação e reforma do galpão, e na construção de um novo laboratório. “Em dois anos, vamos passar dos dez para 36 contêineres de cultivo e aumentar nossa capacidade de produção mensal de cerca de 2 mil frascos de óleo medicinal para 15 mil frascos, ou até mais, dependendo da demanda”, prevê Ricardo Hazin.
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