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Por que os transtornos mentais cresceram entre as crianças? Fake ou verdade - Por Edinázio Vieira

"A psicologia, psiquiatria, neurologia e outras áreas do conhecimento evoluíram na tentativa de diagnosticar transtornos mentais", escreve o colunista.

19 de novembro de 2024 às 16:09   - Atualizado às 17:20

Por que os transtornos mentais cresceram entre as crianças? Fake ou verdade.

Por que os transtornos mentais cresceram entre as crianças? Fake ou verdade. Foto: Arte/Portal de Prefeitura

Os humanos são feitos do mesmo material, mas são marcadamente diferentes, com suas peculiaridades acentuadas pela cultura, raça e ambiente. Imagine colocar uma criança de cada continente no mesmo espaço. Ao observarmos seu comportamento individual e coletivo, percebemos diferenças claras em desejos, alimentação e frustrações. Esses fatores tornam imprudente qualquer diagnóstico coletivo que não considere essas particularidades.  

A psicologia, psiquiatria, neurologia e outras áreas do conhecimento evoluíram na tentativa de diagnosticar transtornos mentais. No entanto, ainda carregam resquícios de épocas em que achismos e interpretações religiosas dominavam os diagnósticos. Hoje, pais procuram consultórios em busca de respostas para alterações emocionais de seus filhos e, muitas vezes, saem com diagnósticos diversos, mas sempre acompanhados da orientação para o uso de medicamentos. Esses pais, sem alternativas, sentem-se prisioneiros de um modelo contemporâneo que parece não ter fim.  

Nunca antes se diagnosticou tantas crianças com transtornos mentais ou se prescreveu tanto medicamento como nesta década. Na antiguidade, crianças eram frequentemente tratadas com o Gardenal, conhecido como o “remédio dos doidos”, tanto para adultos quanto para crianças. Essa prática, considerada aberrante, persiste de outra forma, com a psiquiatria ditando regras que condenam crianças a diagnósticos permanentes, como TEA ou, no mínimo, TDAH.  

Minha visão diverge dessa avalanche de diagnósticos e prescrições. O sofrimento psíquico é parte da existência humana. Somos moldados por um processo contínuo de frustrações, medos, alegrias e desafios emocionais. No entanto, na modernidade, essas experiências têm sido cerceadas. A família, que deveria ser um suporte, foi substituída por tablets, celulares e jogos eletrônicos. A psique infantil, que é imaterial, não está preparada para esses estímulos artificiais e rejeita os "venenos" produzidos pela indústria farmacêutica.  

Hoje, ignoramos legados valiosos de pensadores como Melanie Klein, Françoise Dolto e Donald Winnicott, que enfatizavam o cuidado emocional na infância. A sociedade contemporânea prioriza a produtividade, negligencia o ego infantil e conduz crianças a um mundo repetitivo e automatizado. Essa negligência cria um ambiente caótico.  

O neurologista Oliver Sacks, em sua obra O Homem que Confundiu Sua Mulher com um Chapéu, destaca que há uma distinção clara entre o somático e o psíquico. Ele aponta que a formação do cérebro e da psique segue caminhos distintos, e que categorizá-los em padrões médicos rígidos e coletivos é um equívoco. Cada ser humano é único em sua dor, em sua forma de expressar e enfrentar seus sofrimentos.  

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Pais, seus filhos são únicos. Winnicott falava sobre a "mãe suficientemente boa", que proporciona acolhimento e cuidado. Contudo, a geração atual delega o cuidado das crianças às invenções da civilização. Gravidezes ocorrem em meio ao caos, e os resultados são cérebros acelerados e psiques desestabilizadas. Não adianta lamentar depois. Dolto sugere, talvez de forma provocativa, que pais e mães deveriam se preparar por 50 anos antes de terem filhos. O que ela realmente nos alerta é sobre a responsabilidade imensa de criar e cuidar de uma nova vida.  

A criança vive no mundo da fantasia e dos sonhos, com uma consciência naturalmente alterada. Crianças não “surtam”; elas reagem a explosões químicas influenciadas pela tensão entre seu mundo interno e o mundo externo que as aprisiona. Lembremos do "menino lobo", cujo universo era completamente diferente do que entendemos como civilização. A violência da sociedade moderna adoece não apenas seus próprios "loucos", mas também destrói o universo infantil.  

Então, fake ou verdade? Quem detém a métrica? O profissional ganancioso? O médico escravo do sistema? A responsabilidade recai sobre os pais. Cuidar de seus filhos é abandonar o egoísmo e assumir o papel de arquiteto e engenheiro da vida. Afinal, criar um ser humano é um dos maiores desafios e também um dos mais importantes projetos de uma vida.

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