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RIO DE JANEIRO: operações policiais terminaram com 1.137 civis mortos nos últimos 7 anos

11 de dezembro de 2023 às 18:29

A história do Rio de Janeiro é marcada por chacinas decorrentes de operações policiais. Nos últimos sete anos, 283 operações terminaram com 1.137 civis mortos. Uma chacina é um caso em que três ou mais pessoas são mortas. O mapeamento feito pelo Instituto Fogo Cruzado mostra ainda que ocorreram em média três chacinas policiais por mês, considerando o período entre 1º de agosto de 2016 e 31 de julho de 2023.

“Há décadas convivemos com uma polícia que tem na alta letalidade um indicador de eficiência. Pela primeira vez poderemos ver sistematizados os números de chacinas, que são operações altamente letais. A sociedade pode refletir se essa letalidade tornou-se uma cidade mais segura. Pode-se também refletir sobre os impactos desta escolha por uma política de segurança baseada no enfrentamento e na letalidade, impactos estes que vão muito além das mortes. As vias são fechadas, o transporte público é afetado, as escolas deixam de funcionar. Um dia de operação policial traz consequências físicas, mentais e muitas vezes financeiras para todos os moradores ao redor. Sofrem os cidadãos, sofre a cidade”, lembra 

Maria Isabel Couto, Diretora de Dados e Transparência do Instituto Fogo Cruzado .

Entre essas chacinas policiais mapeadas, 18 aconteceram depois que um policial foi morto ou ferido. Essas chacinas são chamadas para moradores de Operações Vingança. Uma Operação Vingança é, em média, 71% mais letal que uma chacina policial em que não houve agente baleado. As Operações Vingança deixaram 117 mortos na Grande Rio desde 2016.

As chacinas policiais acontecem em toda a região metropolitana, mas não da mesma maneira. Na Zona Sul da capital, foram registradas apenas nove chacinas, quatro delas na favela da Rocinha. Já na Zona Norte, são 73 casos que deixaram 373 pessoas mortas. Na Baixada Fluminense foram mapeados 72 casos, com 255 mortos. E no Leste Metropolitano, 70 casos que resultaram em 252 mortes

O Complexo do Salgueiro, conjunto de favelas em São Gonçalo (Leste Metropolitano), foi uma localidade com mais chacinas registradas no período. Apenas lá, 14 caças policiais resultaram em 66 mortes. Para que se tenha a dimensão do que acontece no Salgueiro, as outras quatro localidades com mais chacinas são: Complexo da Maré (10 ocorrências, 51 mortos), Complexo da Penha (8 ocorrências, 55 mortos), Cidade de Deus (8 ocorrências, 27 mortos) e Vila Kennedy (8 chacinas, 26 mortos). 

Site das chacinas policiais

A maior chacina registrada na história do Rio de Janeiro aconteceu na Zona Norte, no Jacarezinho, em maio de 2021. A polícia realizou uma operação que durou cerca de 10 horas e terminou com 27 mortos depois que o policial civil André Frias foi morto. A chacina do Jacarezinho é uma Operação Vingança e sua história está contada no novo levantamento do Fogo Cruzado juntamente com um perfil das demais Operações Vingança mapeadas na Grande Rio.

Em www.chacinaspoliciais.com.br é possível consultar dados sobre cada chacina filtrando por localidade, bairro, município, região, número de mortos, unidades policiais envolvidas, entre outros dados. Há também uma seção com reportagens sobre as 18 Operações Vingança registradas. 

Unidades policiais

O Batalhão de Operações Policiais (BOPE) esteve presente em pelo menos 34 das chacinas policiais ocorridas nos últimos anos. Juntas, elas deixaram 207 mortos. Isso faz do BOPE uma unidade especializada mais letal em chacinas policiais, conforme os dados. Em seguida estão o 7º Batalhão de Polícia Militar (São Gonçalo), com 33 chacinas policiais e 109 mortos; o Batalhão de Polícia de Choque (BPChq), com 26 chacinas e 121 mortos; e a Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE), com 23 chacinas e 155 mortos. Apesar de aparecer em quarto lugar no ranking das unidades, a CORE é a segunda colocada no ranking de mortes e apresenta uma média de mortos por chacina policial maior do que o BOPE – respectivamente sete contra seis mortos por operação envolvendo essas unidades especializadas.

Polícia Rodoviária Federal

Outro destaque apresentado no site é o número de chacinas em operações policiais ocorridas com a participação da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Desde 1º de fevereiro de 2018, dados da primeira chacina com a participação da PRF, ocorrida no Parque Roseiral, em Belford Roxo, e que terminou com três mortos, já são 10 chacinas policiais envolvidos na unidade e que deixaram 71 mortos. 

A operação ocorrida no Parque Roseiral teve como justificativa reprimir o roubo de carga. Nenhuma carga roubada foi recuperada, mas a partir de então a PRF passou a participar de operações com outras polícias nas favelas do Rio de Janeiro. 

Locais afetados

Entre os municípios, o Rio de Janeiro concentrou o maior número de chacinas policiais (141) e de civis mortos (630); seguido de São Gonçalo (43 chacinas e 157 mortes); Belford Roxo (20 chacinas e 72 mortes); Niterói (19 chacinas e 66 mortes); e Duque de Caxias (13 chacinas policiais e 41 mortes).

Foi no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, que policiais militares do 7º BPM fizeram uma festa em uma piscina a cerca de 500 metros de onde foram encontrados 11 corpos em um mangue. A festa teria acontecido na noite do dia 20 de novembro e entre a noite do dia 21 e a madrugada do dia 22 (datas de, antes e depois da chacina). O Complexo do Salgueiro é uma localidade que concentrou o maior número de operações policiais ao longo dos anos, com 14 casos e 66 mortos.

“Com este levantamento esperamos mostrar a importância dos dados para o planejamento da segurança pública e, sobretudo, para a sociedade fiscalizar a atuação das polícias. As chacinas policiais são rotineiras e acontecem em toda a região metropolitana. Mas o estado não produz dados sobre isso. Não mensura o impacto dessa política nem na criminalidade, nem na vida cotidiana das pessoas. Sem informações, ficamos com mais perguntas do que respostas. Qual o efeito dessas operações policiais? Quais são as unidades mais envolvidas? Como elas afetam a vida das pessoas? Há anos que vemos diariamente notícias sobre operações policiais violentas e nada disso trouxe mais segurança para a população. É preciso mudar a forma de pensar a política de segurança pública”, conclui 

Maria Isabel Couto .

SOBRE O FOGO CRUZADO

O Fogo Cruzado é um Instituto que utiliza tecnologia para produzir e divulgar dados abertos e colaborativos sobre violência armada, fortalecendo a democracia através da transformação social e da preservação da vida. 

Com uma metodologia própria e inovadora, o laboratório de dados da instituição produz mais de 40 indicadores inéditos sobre violência nas regiões metropolitanas do Rio, do Recife, de Salvador e de Belém.

Através de um aplicativo de celular, o Fogo Cruzado obtém e disponibiliza informações sobre tiroteios, verificados em tempo real, que são o único banco de dados aberto sobre violência armada da América Latina, que pode ser acessado gratuitamente pela API do Instituto ou dos relatórios que produzimos mensalmente.

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