Elevação

Brasil tem a maior inflação dos últimos 26 anos para o mês de abril; recorde anterior foi de 1996

No Brasil, a inflação de 1,06% do último abril foi a maior para o mês desde abril de 1996, quando marcou 1,26%. Em 12 meses, os preços subiram, em média, 12,13%, inflação alta em um quadro de juros altos e desemprego alto.

Inflação, juros, desemprego: o que essas três taxas importantes para a economia têm em comum nesse momento? Todas ultrapassaram a barreira dos dois dígitos.

Desemprego

O desemprego no país passou dos 10% em 2016. Veio a pandemia, empresas e negócios fecharam, e o contingente de brasileiros sem emprego se manteve alto. Ítalo Letta fazia montagem de eventos, ficou sem trabalho.

“Todo dia eu ligo, procuro, me comunico, peço ajuda para amigos meus: ‘Por favor, me dá um emprego, um trabalho. Estou desempregado, desesperado'”, conta.
Com um desemprego tão elevado, era de se esperar que a inflação recuasse. Mas que nada. “Naturalmente, a gente espera que haja uma taxa de inflação baixa, porque a demanda tende a ser menor. E no Brasil, não. Infelizmente, isso vem sendo uma realidade recorrente. Isso demonstra claramente uma situação no qual está sendo fora do padrão econômico essas variáveis”, explica Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.

No supermercado, Ítalo não consegue comprar quase nada: “Não como tomate tem quase uns dois, três meses.”

Em março de 2021, a inflação acumulada nos últimos 12 meses ultrapassou o teto da meta, e não voltou. Em setembro do ano passado, furou a barreira dos dois dígitos. Para segurar a inflação, o Banco Central passou a aumentar a taxa básica de juros da economia, na tentativa de desestimular o consumo.

E a Selic só aumenta desde março de 2021. Em maio deste ano, teve a 10ª alta seguida. Com juros nas alturas, o que também só aumenta é a dívida do seu Ítalo.

“Eu sou uma pessoa no meio de milhões, dentro de uma bola, que não consegue sair. E essa bola está aumentando, está aumentando e você não tem a oportunidade para você pagar 100 reais, porque não tenho como pagar 100 reais hoje numa dívida. Não tenho”, lamenta.

Indicadores

Esses três indicadores: desemprego, juros e inflação não registravam ao mesmo tempo taxas de dois dígitos desde 2016, época em que a economia brasileira passava por uma recessão. O Brasil é um dos poucos países no mundo que enfrentam esse cenário triplamente negativo e desafiador.

Entre as 23 economias que concentram mais de 80% do PIB global, além do Brasil, somente a Turquia tem juros, desemprego e a inflação com dois dígitos. A guerra da Ucrânia, os efeitos da pandemia, afetaram a economia no planeta, mas, no Brasil, o cenário é resultado também de outros fatores.

“A instabilidade política gera um desconforto muito grande aos investidores, aos agentes de mercado, aos empresários, que inclusive não investem, não contratam. Isso gera uma manutenção do desemprego ainda em um nível bastante elevado”, afirma Alex Agostini.

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“Acho que um primeiro elemento super importante é a responsabilidade na condução da agenda econômica e, especialmente, das contas públicas”, destaca Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria.

Seu Ítalo simboliza o efeito dessa conjunção econômica, que afeta triplamente milhões de brasileiros: sem emprego, endividado e pagando caro demais para simplesmente sobreviver. “Como é que eu vou viver? Como é que eu vou acordar amanhã se não tem um pão para comer? Um cafezinho para tomar?”, questiona

G1