CPI

Dono da empresa que cuida da distribuição de vacinas nega pagamento de propina a ex-diretor do Ministério da Saúde; acompanhe depoimento ao vivo

A CPI da Pandemia esmiuçou as suspeitas de irregularidades nos contratos entre o poder público e a VTCLog, empresa privada que cuida, para o Ministério da Saúde, da logística da distribuição de vacinas contra a covid-19 em todo o Brasil. No depoimento desta terça-feira, 5 de outubro, Raimundo Nonato Brasil, dono da VTCLog, alegou que a empresa sempre agiu dentro da lei.

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Boa parte das perguntas do relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL), concentrou-se no crescimento exponencial dos valores dos contratos entre órgãos públicos e a VTCLog, desde 2017 — sobretudo o contrato 59/2018, com o Ministério da Saúde, para distribuição de medicamentos e insumos, no valor de R$ 97 milhões anuais. Vários desses contratos foram firmados com dispensa de licitação, ou sofreram aditivos milionários. O então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, teria aprovado um desses aditivos mesmo havendo parecer contrário de outro setor da pasta.

O vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), ressaltou que a expansão da VTCLog coincidiu com a gestão do hoje deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) no Ministério da Saúde, no governo Michel Temer. Barros extinguiu um órgão responsável por essa logística na pasta, a Cenadi (Central Nacional de Armazenamento e Distribuição de Imunobiológicos), e contratou a VTCLog em seu lugar. Raimundo Nonato negou haver relação entre Barros e sua empresa.

Motoboy

Vídeos obtidos pela CPI mostram que Ivanildo Gonçalves da Silva, motoboy do grupo Voetur (à qual a VTCLog pertence), pagou em espécie boletos de Roberto Ferreira Dias em uma agência bancária de Brasília, e fez saques em espécie, de até R$ 400 mil. Em depoimento à CPI em setembro, Ivanildo revelou que ia “constantemente” ao Ministério da Saúde.

“O que nós queremos saber é o destino desse dinheiro, porque nós já temos todas as provas. Por que é que tinha que sacar em dinheiro todos os meses? Esses pagamentos ao Roberto Ferreira Dias eram em retribuição à participação dele no contrato?”, perguntou Renan Calheiros.

O relator chamou atenção para o faturamento anual da VTCLog e seu caráter nacional. Em outros estados, salientou, a empresa paga suas contas por meio de transferências bancárias, e não em espécie, como faz em Brasília. Nonato não explicou em detalhes a destinação dos valores sacados e pagos, mas negou que sua empresa tenha pago propina a Dias:

“A nossa empresa é uma empresa familiar. A gente faz um cheque e vai ao banco para pagar. Nossa tesouraria não ficava guardando dinheiro. Isso aí foi para pagar as despesas da empresa, retiradas dos sócios. Acho que não tem nada de ilegal nisso”, declarou o dono da VTCLog.

Ultrafreezer

O dono da empresa respondeu ainda que a VTCLog teve que lidar com aumentos de despesas — por exemplo, para comprar ultrafreezers para armazenamento das vacinas da Pfizer a 70 graus negativos. Ressaltou que sua empresa já distribuiu mais de 300 milhões de doses de vacinas por todo o Brasil, desde o início da pandemia, em mais de 400 caminhões.

“É muito complicado você lidar com a administração pública. Eles estão sempre demandando, demandando, demandando. Só para atender a demanda da Pfizer, tivemos que investir mais de R$ 30 milhões e até agora não recebemos pelo serviço”, justificou o depoente.

Em diversos momentos, Raimundo Nonato Brasil alegou não ter conhecimento técnico sobre detalhes dos contratos, por serem “muito complexos”. O senador Izalci Lucas (PSDB-DF), que é contador, sugeriu que esses detalhes fossem inquiridos a Andréia Lima, diretora-executiva da VTCLog, presente à reunião. No exercício da presidência, Rogério Carvalho (PT-SE) não atendeu o pedido.

Em seguida, o dono da VTCLog negou-se a autorizar a CPI a realizar uma auditoria nas contas da empresa.

Bolsonaro

Antes da reunião, ao ser perguntado por jornalistas se o presidente da República, Jair Bolsonaro, poderá ser indiciado ao fim dos trabalhos da CPI, Renan Calheiros respondeu que “certamente será”.

“Com certeza será. Não vamos falar grosso na investigação e miar no relatório”, afirmou o relator.

O relator informou que a CPI entregará relatórios separados à Procuradoria-Geral da República, ao Tribunal de Contas da União e aos Ministérios Públicos do Distrito Federal e de estados.

Randolfe Rodrigues afirmou que a CPI encerraria com o depoimento de Raimundo Nonato Brasil as investigações do colegiado sobre corrupção, especialmente no Ministério da Saúde.

Da redação do Portal de Prefeitura com informações da Agência Senado.