Declaração

Presidente do STF faz balanço de um ano de gestão à frente do Supremo; leia íntegra do discurso

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux, disse nesta quarta-feira, 22 de setembro, que a Corte seguirá firme no propósito de salvaguardar o regime democrático e a rigidez do texto constitucional. Fux abriu a sessão desta tarde com discurso de prestação de contas de um ano de gestão no comando do tribunal. O mandato terminará em setembro do ano que vem.

Para Fux, a democracia deriva do dissenso institucionalizado e não da “discórdia visceral ou do caos generalizado”.

“Neste próximo ano de gestão, continuaremos a nossa caminhada com independência, diligência e comprometimento, no labor pela melhoria dos serviços prestados ao país sem prejuízo de velarmos dia após dia, pelas instituições que nos fazem republicanos e pela nossa inegociável democracia brasileira”, afirmou.

O presidente do STF também avaliou que o Supremo tem contribuído para a estabilidade institucional do país.

“O STF não se quedou inerte. Pelo contrário, mostrou-se altivo, estável, resiliente e coeso, assegurando o regime democrático, dirimindo conflitos em prol de maior segurança jurídica e, de modo vigilante, garantindo a observância dos direitos fundamentais”, completou.

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Leia a seguir a íntegra do discurso:

“Em 10 de setembro de 2020, recebi de meus eminentes pares os votos de confiança para exercer a missão mais importante da minha trajetória profissional: a tarefa hercúlea de conduzir este Supremo Tribunal Federal durante o biênio 2020-2022, no auge da Pandemia da Covid-19, na condição de Presidente da Corte, em parceria com a ilustre Vice-Presidente, Ministra Rosa Weber.

Decorridos doze meses de nossa gestão, impõe-se prestar contas à Corte e à sociedade acerca das iniciativas concretizadas por este Tribunal, pelo que convido os eminentes pares e a nossa audiência para assistirmos a um curtíssimo vídeo que resume os principais projetos realizados ao longo do último ano.

Senhoras Ministras,

Senhores Ministros,

Por trás dessas honrosas realizações, remanesce o sentimento de que esta missão tem se mostrado tão gratificante quanto desafiadora.

Gratificante , porquanto muito me orgulha representar a instituição do STF, sua história, remontando à defesa intransigente dos direitos e das garantias fundamentais do povo brasileiro; coordenar os trabalhos jurisdicionais e administrativos nas sessões plenárias da Corte; e principalmente velar pelas prerrogativas do Supremo Tribunal Federal, carta que reúne conquistas do povo brasileiro, aprovada pela Assembleia Nacional Constituinte no exato dia 22 de setembro de 1988, tal como o dia de hoje, e promulgada na data de 05 de outubro de 1988.

Para além da crise sanitária que vivenciamos, a atual conjuntura trouxe reflexos político-institucionais e socioeconômicos, que tem testado o vigor das nosas instituições políticas.

A despeito dessas dificuldades, este Supremo Tribunal Federal não se quedou inerte. Pelo contrário, mostrou-se altivo, estável, resiliente e coeso, assegurando o regime democrático, dirimindo conflitos em prol de maior segurança jurídica e, de modo vigilante, garantindo a observância dos direitos fundamentais.

Desse modo, a Suprema Corte tem contribuído fortemente para com a estabilidade institucional do Brasil, e sua retomada econômica.

Forçoso destacar que durante a pandemia, o acesso ininterrupto à jurisdição constitucional e a prestação eficiente dos serviços judiciais desta Suprema Corte se tornaram possíveis graças às contribuições tecnológicas inovadoras que foram paulatinamente implementadas nas gestões que me antecederam.

Vale dizer: outros ministros foram corresponsáveis por pavimentar caminhos e terreno fértil para várias das conquistas que floresceram durante a atual gestão.

Nesse sentido, não poderia deixar de destacar a competente gestão conduzida pelo eminente ministro e amigo Dias Toffoli e por sua equipe no biênio 2018-2020 para adequar a atividade do STF ao necessário distanciamento social, ampliando o escopo do Plenário Virtual, estabelecendo audiências e sessões por videoconferência, e aprimorando o regime de trabalho remoto.

Em sentido convergente, cumpre igualmente agradecer aos meus pares pelo apoio inestimável a esta Presidência durante os últimos doze meses, no âmbito dos quais temos entabulado um diálogo profícuo, respeitoso e cooperativo. Daí meu agradecimento ao Ministro Gilmar Mendes (Decano), Ministro Ricardo Lewandowski, Ministra Cármen Lúcia, Ministra Rosa Weber, (Vice- Presidente), Ministro Luís Roberto Barroso, Ministro Luiz Edson Fachin, Ministro Alexandre de Moraes e Ministro Kássio Nunes Marques. Não podemos olvidar as contribuições dos sempre presentes Ministros Celso de Mello e Marco Aurélio de Mello, que nos brindaram com sua experiência ímpar neste colegiado.

Nosso relacionamento institucional frutífero tem sido a razão pela qual este Supremo Tribunal Federal se apresenta como exemplo vivo de que a democracia deriva do dissenso institucionalizado e não da discórdia visceral e do caos generalizado.

Por sua vez, também não poderia deixar de mencionar que os expressivos resultados entregues nesta gestão são também fruto do empenho e do esforço dos competentes magistrados auxiliares e instrutores, secretários, assessores, servidores e colaboradores que integram o Supremo Tribunal Federal.

Todos pertencem a grupo seleto e qualificado de cidadãos brasileiros que trabalham com espírito republicano, responsabilidade social e inquestionável probidade.

Na qualidade de Presidente desta Suprema Corte impõe-me externar que, mesmo diante de todo o sofrimento vivenciado pelo povo brasileiro durante esse período de pandemia, mesmo diante dos inúmeros desafios político-institucionais enfrentados, nunca houve – e nem haverá – qualquer espaço para o desânimo ou amedrontamento por parte deste Tribunal, porquanto seguimos conscientes e firmes no nosso propósito de salvaguardar o regime democrático e a higidez do texto constitucional, qualquer que seja o preço político que tenhamos de pagar.

Deveras, ainda há muitos desafios a serem vencidos neste próximo ano de gestão.

Por essa razão, esta Presidência permanece engendrando esforços para entregar projetos vindouros que traduzam a disposição do Tribunal em constantemente se reinventar, e se adaptar às complexidades que surgem a cada dia, sem perder de vista a essência de sua missão constitucional.

Destaco três importantes iniciativas.

A primeira delas é a inauguração das novas instalações do Museu do STF, em outubro, em parceria com a Associação dos Magistrados Brasileiros, a Ordem dos Advogados do Brasil e o Banco Regional de Brasília.

A segunda iniciativa é o Programa Corte Aberta, cuja resolução de instalação será publicada brevemente.

Se, no primeiro ano de gestão, consolidamos o STF como a primeira Corte Constitucional do mundo 100% digital, neste segundo ano daremos um passo adiante, revolucionando o modo como estruturamos e disponibilizamos à sociedade os nossos dados jurisdicionais, tornando-os mais acurados, confiáveis, íntegros e acessíveis, sem esquecermos dos necessários pilares da proteção de dados pessoais e da segurança cibernética.

Em terceiro lugar, merecem destaque o Plano de Retorno Seguro e o novo Modelo de Gestão do STF.

O primeiro orientará o nosso retorno com segurança ao convívio presencial nas instalações físicas da Corte.

Por sua vez, o segundo ofertará ferramentas modernas para a gestão da produtividade e para a organização de nossa força trabalho no contexto da pós-pandemia.

Esse novo Modelo de Gestão, que será lançado em outubro, é totalmente baseado em evidências científicas e reúne boas práticas pesquisadas em diversas instituições públicas e privadas, nacionais e estrangeiras, além de contar com insights oriundos de nossa cooperação com a Universidade de Oxford.

Neste próximo ano de gestão, continuaremos a nossa caminhada com independência, diligência e comprometimento no labor pela melhoria dos serviços prestados ao país, sem prejuízo de velarmos dia após dia pelas instituições que nos fazem republicanos e pela nossa Democracia inegociável pelo povo brasileiro.

Esses nobres desígnios dependem sempre da coesão da nossa Corte e considerando o quadro atual, posso dizer que nós ministras e ministros estamos todos unidos nesta missão!

Luiz Fux

Presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça”