Fé & Razão
Artigo: Deus existe? Santo Agostinho responde! – Jason Medeiros
Você já se perguntou se Deus existe? Veja o argumento de um dos maiores filósofos da história.
Fé & Razão
Você já se perguntou se Deus existe? Veja o argumento de um dos maiores filósofos da história.
É comum que, em algum momento das nossas vidas, todos nós nos perguntemos se Deus realmente existe. Não pense você que essa é uma questão trivial. Tanto não é que ela ocupou a mente dos maiores pensadores da humanidade, de Platão e Aristóteles a Tomás de Aquino e Duns Scot, de Descartes e Leibniz a Kant e Nietzsche, entre tantos outros.
Pensando nisso, decidi lançar nessa coluna a série Deus existe?, onde irei expor os argumentos mais famosos da filosofia em favor da existência de Deus, bem como algumas das suas objeções.
Neste artigo de hoje, apresentarei o argumento em favor da existência de Deus elaborado por um dos maiores filósofos e teólogos de todos os tempos, Aurélio Agostinho (354 – 430), ou Santo Agostinho, ou ainda Agostinho de Hipona, localizado no Livro II da sua obra composta por três volumes, Sobre o livre-arbítrio (395), uma obra-prima ao lado de Cidade de Deus e Confissões.
Cabe ressaltar, antes de iniciarmos, que esse não é o único argumento de Agostinho em favor da existência de Deus, ele elaborou outros nas obras mencionadas e que se complementam, no entanto, o argumento selecionado é de um rigor lógico-retórico singular, além de ser pouco explorado pelos que apresentam a obra do filósofo, e é por essas e outras razões que desejo trazê-lo aqui hoje.
O Argumento
Santo Agostinho inicia a sua exposição distinguindo três divisões na ordem hierárquica do ser: a existência (presença), a vivência (vida) e a inteligência (razão), exemplo:
Um animal existe, vive, mas não é dotado de inteligência;
Um ser humano possui as três propriedades: existe, vive e pensa.
Ou seja, nem tudo aquilo que existe e vive, pensa, mas todo aquele que pensa, vive e existe. Portanto, o ser que raciocina é mais excelente que o ser que apenas vive e, este, por sua vez, é mais excelente que aquele que meramente existe.
Na sequência, Agostinho passa a explicar que os nossos sentidos corpóreos (visão, audição, olfato, paladar e tato) estão a serviço da razão porque, assim como os animais nós vemos, ouvimos, sentimos o gosto e as texturas das coisas, mas, diferentemente deles, nós produzimos ciência (conhecimento) a partir das informações captadas no mundo físico/sensível (das sensações) e que são organizadas pela razão.
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Logo após, o filósofo afirma que se for possível encontrar um ser cuja existência seja superior à razão, este deve ser entendido como Deus, e que se este for menos excelente que outro, este outro deverá então ser reconhecido como Deus. Continua dizendo que se exercitando exclusivamente a razão, pode-se intuir um ser imutável, este é Deus, visto que todos os seres com suas propriedades, mesmo os dotados de razão, são mutáveis, corruptíveis e contingentes.
Agostinho demonstra como cada um de nós, individualmente, possui os sentidos corporais que captam as informações do mundo físico/sensível, e que são organizadas pela razão que também é individual, pois do mesmo modo que um ser pode ver, ouvir e sentir algo, e outro não, um também pode compreender algo e outro não, ou seja, fica evidente que os sentidos e a razão pertencem particularmente a cada individuo possuidor dessas propriedades.
Mas então o filósofo questiona: “cada um de nós tem o próprio sol que vê, ou que tem sua própria lua, ou estrelas, ou outras coisas semelhantes, uma vez que cada um de nós percebe estas coisas com seus próprios sentidos?”. Quer dizer, existem coisas no mundo sensível (físico) que podem ser captadas por nossos sentidos e compreendidas pela nossa razão, mas que não deixarão de existir se não forem sentidas ou entendidas, mas mesmo assim são mutáveis, corruptíveis e contingentes. Mas e no mundo inteligível (metafísico), existem coisas imutáveis?
Agostinho chega assim aos universais abstratos, os números, a matemática. Ele nota que as regras numéricas são sempre as mesmas, independentemente da razão de cada indivíduo humano, que pode compreender essas regras, mas jamais modificá-las. O resultado da expressão numérica um mais um, será sempre igual a dois (1+1=2), não podendo haver mutabilidade nessa regra. De forma análoga pode-se pensar nas formas geométricas, por exemplo, não se pode conceber um quadrado-redondo, ou um triângulo-quadrado, sem entrar em contradição, são impossibilidades lógicas, são verdades absolutas, são superiores à razão, já que não se alteram quando o raciocino se engana sobre elas.
Mas, o santo vai mais além e nos diz que não podemos negar que o superior é preferível ao inferior, ou seja, que o incorruptível é melhor que o corruptível, que o eterno é melhor que o temporal, que o inviolável é melhor que o violável, que a virtude é melhor que o vício, que a bondade é melhor que a maldade, que o racional é melhor que o irracional, etc. E mais, que todos os homens desejam a felicidade, a bondade, a sabedoria, mesmo que divirjam sobre o que essas coisas realmente são, no entanto, fato é que poucos podem estar enganados sobre elas, muitos podem estar enganados, e até mesmo todos podem estar errados sobre o que é cada uma dessas coisas, mas jamais todos certos enquanto buscam coisas diferentes. Portanto, essas são verdades necessárias que devemos aceitar.
Conclui-se, portanto, que se a inteligência compreende a vivência e a existência, essa ordem verdadeira, necessária e imutável, que pode ser parcialmente acessada pelo exercício da racionalidade, é superior à razão humana, e tem que necessariamente derivar de um ser superior que existe, vive, pensa, ou seja, Deus, a Verdade por excelência. E com essa citação Agostinho encerra seu argumento em favor da existência de Deus:
“Tu havias consentido que, se te demonstrasse que há algo superior a nossas mentes, confessarias que este algo é Deus, se não houvesse ainda algo superior. Eu, aceitando esta tua confissão, te disse que bastava, com efeito, demonstrar isto. Porque, se há algo mais excelente, esta mesma verdade é Deus precisamente; e se não há, esta mesma verdade é Deus. Que haja, pois, ou não, algo mais excelente; não poderás negar, porém, que Deus existe: esta é a questão que nós havíamos proposto tratar e discutir.”
Conclusão
É notável que esse argumento não é uma prova absoluta da existência de Deus, é antes uma exposição lógica e retórica de como o ser humano pode fazer uso da razão para ascender a compreensão da existência da Verdade e de Deus. Corroborando esse entendimento, concluo com a citação do Ph.D Battista Mondim em Quem é Deus? Elementos de teologia filosófica (1990):
“Vimos, então, que as provas têm o valor de comprovações racionais da experiência religiosa. Por isso, as provas não devem ser entendidas como hábeis mecanismos lógicos, uma espécie de ars combinatoria que magicamente faz vir à tona a existência de Deus. As vias não produzem a existência de Deus! Deus já existe! As vias são tentativas, pistas, condutos, para se chegar racionalmente a ele. São confirmações, no plano da racionalidade lógica, do que a consciência religiosa já alcançou mediante um processo empático intuitivo-raciocinativo. O valor das provas é lógico e não pode ser diferente disso; portanto, não é experiencial nem religioso. E no plano da lógica não se pode, certamente, pretender alcançar o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó e de Jesus Cristo.”
Por: Jason Medeiros
Jason de Almeida Barroso Medeiros, 27 anos, Bel. em Direito pela UNICAP; Estudante de Filosofia na UFPE; Militar da Reserva do Exército Brasileiro; Jornalista com coluna no Portal de Prefeitura; Entusiasta da Política e editor do perfil @ocontribuinteoriginal no Instagram.
Formado em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco; Bacharelando em Filosofia pela UFPE; Aspirante a Oficial da Reserva do Exército Brasileiro pelo CPOR/R; Jornalista com coluna no Portal de Prefeitura; Entusiasta da Política e Editor-chefe do perfil @ocontribuinteoriginal no Instagram.
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