Desigualdade

Brasil tem mais 20 bilionários, enquanto 19 milhões passam fome

Se a pandemia do coronavírus é um tsunami que arrasta empregos, renda e a segurança alimentar de grande parte da população, ela também se tornou a onda perfeita em que uma ínfima minoria surfou para aumentar suas fortunas. “Os muito, muito ricos ficaram muito, muito mais ricos”, comentou o diretor de conteúdo e editor da revista ‘Forbes’, Randall Lane, sobre o ranking dos ‘Bilionários do Mundo 2021’ publicado nesta terça (6).

No Brasil, onde não se taxa nem grandes fortunas nem lucros e dividendos distribuídos a acionistas das corporações, mais 20 superprivilegiados (ou 0,0000095% da população) ingressaram no clube dos bilionários em dólares, que já contava com 45 associados. Nove deles sequer vivem no país. Ao todo, são 57 residentes no Brasil na lista da ‘Forbes’. A fortuna somada deles quase dobrou – foi de US$ 127,1 bilhões para US$ 219,1 bilhões, ou R$ 1,2 trilhão.

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Os números contrastam brutalmente com outro “ranking”, divulgado na véspera. O ‘Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil’, desenvolvido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN), revela que mais da metade (116,8 bilhões) dos 211 milhões dos brasileiros e brasileiras não tem acesso pleno e permanente a alimentos, nos mais variados níveis: leve, moderado ou grave. E 19 milhões (9%) estão passando fome.

Mesmo com a maior queda no Produto Interno Bruto (PIB) da história brasileira no ano passado – de 4,1% em relação a 2019 – os super ricos tupiniquins conseguiram angariar ainda mais renda, enquanto o país amargava retração econômica e tragédia sanitária. No mundo, o acréscimo no número de bilionários foi de 660.

Embora alguns dos bilionários brasileiros tenham despencado no ranking da ‘Forbes’, um relatório do banco suíço UBS e da PwC publicado em outubro do ano passado apontou que a fortuna dos bilionários brasileiros havia aumentado 99% de 2009 a 2020, indo de US$ 88,6 bilhões a US$ 176,1 bilhões em 11 anos.

“Esses números irão gerar uma quantidade infinita de consternação, a maioria delas justificada”, comentou Randall em editorial. “O capitalismo, o maior sistema de geração de prosperidade de todos os tempos, repousa sobre um pacto social de expansão, de design desigual. A economia da Covid-19 sobrecarregou esse conceito; a disparidade econômica crescente representa, sem dúvida, a maior ameaça à ordem social moderna.”

Em setembro de 2020, a organização Oxfam já alertava para o crescimento acelerado das super fortunas no país. “Não podemos aceitar que esse modelo econômico, que privilegia alguns poucos bilionários em detrimento de toda a sociedade, continue a ditar as regras. Nosso relatório mostra que essa economia só tem funcionado para um pequeno grupo de pessoas”, criticou a diretora executiva da Oxfam Brasil, Katia Maia.

O relatório ‘Tempo de Cuidar’ revelou como governos cobram poucos impostos dos mais ricos e de grandes corporações. Com isso, abandonam a opção de levantar os recursos necessários para reduzir a pobreza e as desigualdades, sub-financiando serviços públicos e infraestruturas essenciais.

“Queremos uma economia voltada para 100% da população e não para o 1% mais rico do mundo. Com isso, o desenvolvimento e oportunidades devem ser para todos e todas, e não apenas para o mesmo grupo de privilegiados de sempre: homens brancos e ricos”, finalizou a dirigente da Oxfam Brasil.

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