Preocupação

Fernando Haddad sobre pandemia: “não podemos deixar o povo morrer de Covid-19 e de fome”

O ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, disse em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, do ‘ UOL’, o petista tratou das crises econômica e sanitária, defendeu que o PT coloque o “bloco na rua” para debater propostas para o país junto à população e avaliou o cenário das eleições presidenciais de 2022.

As medidas mais urgentes para reparar a “situação de caos no país’ gerada por Bolsonaro”, aponta Haddad, são a retomada imediata do auxílio no valor integral de R$ 600, por pelo menos seis meses, e aceleração de uma campanha que permita a vacinação em massa de todos os brasileiros.

“Não podemos medir esforços para lutar pela volta do auxílio emergencial imediata – as pessoas vão passar forme – e por vacinação. Sem essas duas providências, vamos passar por um semestre muito difícil no Brasil por única responsabilidade do governo federal”.

Segundo Haddad, é preciso evitar que a população morra “de Covid ou de fome porque o governo federal errou o ano passado inteiro” Para o petista, o auxílio deve voltar no patamar que foi estabelecido até que todas as pessoas se vacinem.

“Vai custar recursos? Sim, mas vamos salvar a economia e salvar vidas”, argumenta.

Haddad também responsabilizou o presidente por mais de 150 mil óbitos entre as mais de 230 mil vítimas fatais registradas no país desde o início do surto sanitário. 

Para o petista, Bolsonaro “sabotou [o combate à pandemia] desde sempre, inclusive induzindo as pessoas a imaginar que o tratamento precoce era mais eficaz do que a vacina que está sendo adotada em todo o mundo”.

Haddad lembrou que as projeções dos epidemiologistas, no início da pandemia, davam conta de que o país perderia em trono de 70 mil vidas, isso adotando as medidas de segurança recomendadas pela OMS.

“Estamos  em 230 mil. Significa dizer que dois terços das pessoas que vieram a óbito. Isso se deve ao fato de que Bolsonaro foi um enorme irresponsável”, disse.

Impeachment

Haddad também lamentou a posição brasileira na atual corrida mundial por vacinas.

“Qual é a nossa situação? Não temos uma relação privilegiada com nenhum dos cinco laboratórios [mundiais]”, observa o ex-ministro. “Hostilizamos a China, hostilizamos a Europa, e de uma forma tal, que hoje não temos como corrigir os problemas, razão pela qual temos dezenas de pedidos de impeachment de Bolsonaro”.

De acordo com o ex-ministro, a solução virá da sociedade civil, do Congresso, do Judiciário e dos governadores, já empenhados em outras alternativas, caso do Consórcio do Nordeste, que luta pela liberação do uso da vacina russa Sputnik V.

Haddad avaliou ainda que o cenário para um impeachment de Bolsonaro, após a eleição para Presidência da Câmara, ficou mais difícil.

“O Bolsonaro, via centrão, loteou o governo, para manter mandato e blindar o filho Flávio, que a essa altura já teria sido julgado pelo menos em primeira instância pelos desvios de dinheiro público dos quatro gabinetes da família”. Ele considera que Bolsonaro se enfraqueceu como presidente ao mesmo tempo em que “fortaleceu aqueles que o irão proteger até 2022”.

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Entrega do BC a bancos privados

Haddad condenou a proposta de conceder mais autonomia ao Banco Central (BC), criticando duramente a medida que permite a Bolsonaro nomear o presidente do BC do próximo governo, sem possibilidade de demissão pelo próximo presidente da República. Para Haddad, a tal “autonomia” nada mais é do que entregar um importante instrumento de soberania do país nas mãos de bancos privados.

“O Banco Central tem o dever, segundo a lei atual, e desde 1999 é assim, de trazer a inflação para a meta estabelecida pelo governo. O que está em pauta agora não tem nada a ver com regime de meta de inflação”, explicou.

“Ao invés de fazer a reforma bancária, que nos propusemos em 2018 – o grande problema desse país é crédito barato, para as pessoas terem oportunidade de trabalho. – você vai entregar o BC para os bancos privados?”, indagou.

“É o que vai acontecer na prática, quando na verdade o que deveria estar acontecendo é uma profunda reforma bancária para atualizar o Brasil em relação ao padrão internacional dos países desenvolvidos”.

Bloco na rua

Haddad voltou a defender que o PT coloque o “bloco na rua” para fazer frente a Bolsonaro que, na avaliação do petista, ocupa a Presidência em modo de campanha permanente. “Você não sabe uma decisão que Bolsonaro tomou que represente um horizonte de recuperação da economia brasileira e dos direitos sociais e trabalhistas do país”, justificou.

“Hoje estamos imobilizados, precisamos conversar com a população, que está sofrendo, sem vacina, sem auxilio, sem emprego, sem perspectiva, sem educação”, ressalta. “Como vamos sair da crise sem conversar com as pessoas?”, questiona.

Haddad afirmou que o PT foi o único partido a apresentar um plano de reconstrução imediata do país, antecipando-se ao pleito de 2022, com mais de 600 especialistas da Fundação Perseu Abramo. Fizemos um plano de 200 páginas para discutir ideias, propostas, sobre todos os temas: meio ambiente, relações  exteriores, ciência e tecnologia, cultura. Se a gente não for para a base discutir um plano de país, não temos futuro”.

Lula candidato

Haddad comemorou a decisão, pela 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), de manter o acesso da defesa do ex-presidente Lula ao conteúdo das mensagens apreendidas na Operação Spoofing. O ex-ministro considera que há um caminho aberto para que a defesa de Lula consiga a anulação dos processos contra o ex-presidente.

“Fiquei com muita esperança de que a justiça está tardando mas vai chegar. Tivemos uma sinalização clara do STF de que os crimes cometidos pelo Sergio Moro serão apurados”.

Haddad explicou que as mensagens poderão comprovar – de maneira cabal – que Moro liderou a acusação contra o Lula.

“O processo não teve juiz, o juiz era o décimo segundo jogador em campo por parte da acusação”, comparou o ex-ministro.

Para Haddad, só haverá justiça se Lula recuperar os direitos políticos para que possa rodar o país e disputar a eleição. “Lula foi o maior presidente da República da história. Meu candidato é o Lula; foi em 18, em 22 continua sendo”, reiterou Haddad. “Sou amigo, correligionário, colaborador do Lula há mais de 20 anos. Sempre construímos propostas conjuntas para o Brasil”.

Em caso de impedimento de Lula, Haddad disse que está preparado para o desafio.

“Preparado para ser Presidente… estou há 40 anos. Isso não tem a ver com o fato de eu desejar que a justiça seja feita. Como negar que o Lula está sendo vitima de uma violência e que eu gostaria de que ele pudesse decidir ser ou não [candidato], com seus direitos restabelecidos? Não tem cabimento”.

Da redação do Portal com informações do Partido dos Trabalhadores