Investimento

Secretário dos EUA, anuncia US$ 30 milhões para gerenciamento de crise

Em visita a Boa Vista, na tarde da última sexta-feira, dia 18 de setembro, acompanhado do ministro de Relações Internacionais do Governo brasileiro, Ernesto Araújo, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, anunciou que os EUA (Estados Unidos América) vão investir mais US$ 30 milhões no gerenciamento da crise migratória venezuelana no Brasil por meio da Operação Acolhida.

Parte desses recursos deve ser utilizada em Roraima, Estado que é porta de entrada destes imigrantes no Brasil, por meio de interagências como o Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) que trabalham no atendimento direto a esse público.

O governador Antonio Denarium acompanhou a visita de Pompeo ao Petrig (Posto de Triagem para Imigrantes) e a instalação Wash, no abrigo que funciona no terreno da Paróquia de Nossa Senhora da Consolata. Ele afirmou que a ajuda do Governo americano é fundamental.

“Roraima não tem como gerenciar essa crise sozinho. Mais de 700 mil venezuelanos já passaram por aqui fugindo da crise social e econômica que assola o país deles, e destes, 100 mil permanecem em nosso Estado. As interagências, que contam com recursos destinados pelo governo americano, exercem um importante papel nesse processo de acolhimento”, declarou o governador.

Pompeo afirmou que o governo americano já havia enviado US$ 50 milhões para o gerenciamento da crise migratória venezuelana no Brasil. Com o novo envio de recursos, os investimentos chegam a US$ 80 milhões. Ele frisou ainda que o povo venezuelano vem sofrendo há anos nas mãos de um governo ditador.

“Nicolás Maduro está destruindo o próprio país, isso já fez com que mais de quatro milhões de venezuelanos deixassem o país, muitos inclusive em direção ao Brasil. Não reconhecemos esse governo ilegítimo e vamos tirar ele de lá”, declarou o chefe máximo do departamento diplomático dos EUA.

Para o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, afirmou que discutiu a migração venezuelana com Pompeo. “Essa visita reforçou o apoio do governo americano aos venezuelanos que fogem da crise no país de origem deles. Esse apoio ao governo brasileiro é fundamental para o gerenciamento dessa crise”, pontuou o ministro.

Da redação do Portal com informações da Agência Roraima

Reação de Rodrigo Maia 

A visita ao Brasil de Mike Pompeo, secretário de Estado norte-americano, causou mal-estar com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Em nota, o parlamentar disse que o encontro em Boa Vista (RR) a um mês e meio da eleição americana “não condiz com a boa prática diplomática internacional e afronta as tradições de autonomia e altivez” da política externa e de defesa do país. Maia afirmou que Constituição brasileira prevê que os governantes devem orientar suas relações internacionais cumprindo os princípios da independência nacional, da autodeterminação dos povos, da não-intervenção e da defesa da paz. Nenhum representante dos governos brasileiro ou americano respondeu às críticas.

A viagem tem como pano de fundo a campanha à reeleição de Donald Trump e críticas ao regime do venezuelano Nicolás Maduro. O secretário quer demonstrar para o eleitor latino de que os EUA ainda têm influência na região. Nessa rodada, o secretário viajou ao Suriname, Guiana e Colômbia. Apenas no Brasil ele não se encontrou com a principal autoridade do país. Nesta sexta-feira, o presidente Bolsonaro estava inaugurando obras em duas cidades do Estado de Mato Grosso em ritmo de campanha eleitoral, que só ocorrerá, de fato, daqui a dois anos.

No Suriname, Pompeo se encontrou com o presidente, Chan Santokhi. Na Guiana, com Irfaan Ali. E, na Colômbia, tem reunião prevista com Ivan Duque. No domingo, ele segue para o Texas, estado com forte influência latina. Em Boa Vista, ele foi recebido pelo chanceler brasileiro Ernesto Araújo.

“Traficante de drogas”

No encontro com Araújo, o secretário Mike Pompeo, chamou o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, de traficante de drogas e, sem dar mais detalhes, sugeriu que ele deveria ser retirado do Governo. “Não devemos esquecer que ele não é apenas um líder que destruiu seu próprio país, uma crise provocada pelo homem das mais extraordinárias proporções da história moderna, ele também é um traficante de drogas, transitando drogas ilícitas para os Estados Unidos com impacto sobre os americanos. E todos os dias. Portanto, nossa vontade é consistente, nosso trabalho será incansável e chegaremos ao lugar certo. Será o lugar certo para a América, será o lugar certo para o Brasil, mas o mais importante, será o lugar certo para o povo venezuelano”. Os dois fizeram discursos quase uníssonos sobre a Venezuela. Araújo disse, por exemplo que o regime de Nicolás Maduro deveria “desaparecer”. Enquanto que Pompeo afirmou que a Venezuela deveria voltar à democracia.

Nesta semana, um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) acusou o governo Maduro de crimes contra a humanidade desde o ano de 2014. Entre elas, estariam o uso sistemático de tortura e assassinatos.

No encontro com Araújo, Pompeo ainda destacou o interesse em manter a parceria que tem com o Brasil. Conforme ele, desde que o país passou a receber massivamente migrantes venezuelanos, em fevereiro de 2018, os Estados Unidos já repassaram cerca de 80 milhões de dólares (400 milhões de reais) ao Brasil. O valor representa 20% do custo da Operação Acolhida, uma ação humanitária que recebe os migrantes e tenta os inserir em comunidades do país.

Ao garantir apoio aos países latinos, os Estados Unidos também querem se assegurar que boa parte dos migrantes não irá para o seu território. Outra pessoa que criticou a vinda de Pompeo foi a diretora de programas da ONG de direitos humanos Conectas, Camila Asano. Ela afirmou que há uma “hipocrisia” por parte do Governo Bolsonaro em destacar os feitos da operação Acolhida, que desde março não recebe nenhum novo migrante, por causa da pandemia de coronavírus.

“As regras sobre o fechamento das fronteiras brasileiras tem sofrido flexibilizações ao longo dos últimos meses e hoje permite a entrada de turistas e investidores por via aérea, mas ainda proíbe pessoas que fogem da crise humanitária na Venezuela de entrar em território nacional”, afirmou.

Pompeo e Araújo foram questionados por jornalistas como eles viam a série de concessões que o Brasil estava fazendo aos Estados Unidos em um período pré-eleitoral americano. Ambos negaram que houvesse qualquer problema no relacionamento ou uma submissão por parte do Brasil. Nas últimas semanas, o Brasil antedeu aos interesses norte-americanos e abriu mão de uma candidatura própria para a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento para apoiar um nome sugerido por Trump, contrariou os interesses de produtores brasileiros aceitando ampliar por mais três meses o prazo de importação de etanol americano com tarifas mais baratas e não se opôs ao anúncio de Washington de que cortaria 80% da importação do aço brasileiro.

O secretário americano afirmou que entre “amigos, não funciona assim”. “Isso é um relacionamento. Não é uma transação. Parceiros trabalham juntos.” Enquanto que o chanceler brasileiro amenizou as críticas e afirmou que os dois países têm uma relação diversificada e de longo prazo. No caso do BID, disse que precisava de um banco atuante, que pudesse trabalhar pelo desenvolvimento, pela liberdade e pela democracia. “A questão não é tanto a nacionalidade, mas o programa, que será bom para o Brasil”.

Esta foi a segunda visita de Pompeo ao Brasil. A primeira ocorreu em janeiro de 2019, quando ele esteve na posse do presidente Jair Bolsonaro como representante de Donald Trump.

Em Boa Vista, o secretário de Estado visitou a sede de uma igreja católica onde funciona um projeto de saneamento básico financiado pelo Governo Donald Trump e um posto de identificação e triagem da Operação Acolhida, que recebe migrantes.

Pompeo se encontrou com cinco venezuelanos de uma mesma família que estão há dez meses vivendo em um abrigo de Boa Vista. Eles estão em processos de migração para o Estado de Santa Catarina, no Sul do Brasil, após deixarem a região de Sucre por conta da crise humanitária da Venezuela.