Artigo

O peso da comunicabilidade presidencial

Um amigo me dizia costumeiramente que não há salário que pague um trabalho bem feito. Penso que é por isso mesmo que nunca conseguiremos transmitir aos profissionais de saúde a gratidão que eles merecem.

Imagino que a maioria desse público ficou deveras surpresa nos últimos dias por algo dito pelo presidente. Bolsonaro sugeriu às pessoas que entrasse em unidades de saúde com a câmera dos celulares ligada. O intuito seria investigar o funcionamento de hospitais com pacientes da Covid-19.

Temos um presidente honesto e de princípios louváveis. Todavia, às vezes seu jeito autêntico de se comunicar em vários assuntos desconsidera consequências importantes.

Entrar em locais com pesada carga viral de Coronavírus demanda uma proteção com a qual a maioria de nós não está familiarizada. Penso que essa questão é imensamente problemática.

Até um tempo atrás só se atribuia radicalidade a quem gritava “Lula livre”. Contudo, também existe certeza insustentável em quem não consegue admitir quando nosso presidente erra. Na verdade o fanatismo pode muito bem estar na mente de defensores de qualquer ideologia.

Ninguém jamais alcançou domínio integral sobre a própria língua em todas as situações. Mas, quando se é um líder importante não se pode prescindir de esforço pessoal nesse sentido.

Temos um presidente que rompeu com um modelo de gestão que tentou, por anos, moldar o executivo, o legislativo e o judiciário. Posso meramente supor a incrível pressão a que ele e seus ministros são diariamente submetidos.

Tudo isso colabora para que Jair Messias Bolsonaro esteja especialmente suscetível à atenção que se dá a tudo o que ele diz.

Na mitologia, o talão de Aquiles não é lembrado por sua mera vulnerabilidade. Essa parte do corpo do guerreiro ficou famosa como uma assinatura de fracasso do grande lider.

O presidente Bolsonaro necessita dar a devida atenção às expressões de comunicabilidade em seu governo. Penso que isso é crucial para que esse ponto não se transforme num calcanhar de Aquiles presidencial.