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A Esquerda, o Cachorro Quente e a Dominação Cultural 'Opressora'

Foto: Estátuas de Karl Marx e Friedrich Engles/Pinterest/ Divulgação

Gosto muito de filme. Em grande parte deles alguém sempre aparece comendo um cachorro quente. Nessas horas sempre me lembro dos hot dogs vendidos no centro de Recife.

Passam-se décadas e a receita americana continua a mesma nos Estados Unidos. Já por aqui podemos escolher se queremos que carne de charque ou que um ovo de codorna sejam adicionados a esses sanduíches.

Boa parte da esquerda critica a recente aproximação de Bolsonaro com o governo americano. Projetos econômicos ou de troca de tecnologia são compreendidos como política entreguista ou de subserviência aos interesses estadunidenses de “dominar o mundo”.

Creio que perto de 99% desses críticos jamais pensou em parar de comer hot dog, mesmo que “à brasileira”. Essas pessoas também não jogam fora seus celulares nem deletam, de seus aparelhos as músicas em inglês das quais gostam.

É facil conhecer vegetarianos ou minimalistas que restringem o consumismo por apoiarem a sustentabilidade. No entanto, ainda não vi ninguém da esquerda se vestir como “brasileiro raiz” (índio) no cotidiano para protestar contra as influências culturais, econômicas ou tecnológicas do “opressor” americano.

O máximo que tive notícia foi que um certo deputado defendia que negros católicos e protestantes precisavam honrar suas raízes. Eles deveriam, então, livrar-se da “dominação cultural religiosa” e fazer parte das religiões de matriz afro.

A esquerda brasileira faz muito barulho, mas não segue integralmente os próprios princípios. E não os segue porque a maioria de suas crenças destoa do mundo contemporâneo.

Demonizar empresarios com frases de ordem contra a burguesia não faz o mesmo sentido que muitas décadas atrás. E a tática de colocar ricos contra pobres tem andado mais flácida que nunca.

A esquerda brasileira vai ter que se reinventar. Não creio que eles tem que fazer boicote a cachorros quente para mostrar sua orientação política de forma definitiva. Penso que também não precisam rebaixar os padrões da arte para fazer dela um mecanismo de franca hostilidade política.

Basta que olhem para o mundo real e parem de falar o tempo todo esse dialeto cansativo e cheio de ódio a tudo aquilo que destoa do que eles pensam que é o melhor para o mundo. Basta que chamem a corrupção e os equívocos governamentais anteriores pelos nomes verdadeiros. Aí, já será um bom começo.