ARTIGO

Sua vida é ou transcende sua ideologia política?

Foto: Botella del mar, obra de Grete Stern

Certa vez uma pessoa iniciou, em tom hostil, uma conversa comigo. Como se diz aqui no nordeste, “dei corda” para ver onde aquilo acabaria. Então tomei conhecimento das inúmeras amarguras que a alma alheia acabara de traduzir em frases e dirigi-las a mim.

As tensões de minha colega giravam em torno do “ódio” da direita contra a esquerda, e da “intolerância cristã” contra religiões de matriz afro.

Percebi que os dois assuntos tinham tomado tal proporção para aquela jovem que a deixaram emocionalmente abalada. O interessante: ela não tinha filiação partidária alguma, e era católica praticante.

Então perguntei à amiga se ela sabia que, antes da gente nascer, e depois da gente morrer, questões como essas já preocuparam e seguirão preocupando algumas pessoas.

A despeito da importância do que acontece nas esferas de poder do país e do mundo, política não é tudo que importa. No entanto, nossa época tem gerado pessoas que vivem como se assim o fosse. Estaria a ideologia política substituindo nossa vida? Ou, quem sabe, roubando a possibilidades de vivermos  momentos bons?

Prestes a concluir a conversa com a mulher da qual falei, dei a ela algumas sugestões. Pedi que fosse ao cinema. E depois, que arranjasse tempo para ir à praia, coisa que soube que gostava.

Não era uma fuga de assunto. Eu lhe disse que, depois de arejar a cabeça e de se divertir, aqueles problema estariam no mesmo lugar, esperando por ela.

Ademais, ela tinha outra opção para resolvê-los nesta vida. Poderia usar sua profissão (educadora) e influenciar positivamente aqueles que estão sob sua direta influência. E se o fizesse, que se aprofundasse, ao invés de ser um eco daqueles que usam frases de efeito para destruir, ao invés de edificar um mundo mais coerente e gentil.

Muitas vezes a questão não é contra argumentar. É lembrar o outro de que viver não se resume a carregar uma ideologia política. A vida pode proporcionar momentos felizes também.

Você, leitor(a) que nos honrou com sua atenção semanal em 2019 e que atribui credibilidade à forma como tratamos de política por aqui: agradecemos muito sua confiança. No entanto, será que você também não está precisando enxergar o que o mundo pode ter de bom? O que discursos ideológicos tem decidido por você?

Neste novo ano ainda precisaremos defender, como nunca, valores como Deus, pátria e família. Duras batalhas virão, mas, a despeito da fúria com que cheguem, que não nos esqueçamos que somos todos irmãos vivendo em um barco só, e ele se chama Brasil. Que 2020 nos traga mais sabedoria política. E fraterna também.